domingo, 12 de outubro de 2014

Liberdade e comodismo

Na conferência "À procura da Liberdade" da semana passada, em Lisboa, foi distribuída uma pequena antologia sobre o tema, com autores desde a Antiguidade Clássica até ao final do século XX. O livro é pequeno e de cada autor foi seleccionado no máximo um pouco mais de uma página.

De todos os textos houve um que me pareceu particularmente oportuno. Immanuel Kant respondeu, no final do século XVIII, à pergunta: "O que é o Iluminismo". O filósofo alemão observou que não basta ao homem estar liberto do controlo de outrem se insistir em não pensar pela própria cabeça. Neste início do terceiro milénio, em que um volume ímpar de informação está disponível da forma mais confortável, na ponta dos nossos dedos, continuamos a sucumbir aos mesmos vícios apontados no texto. É tão mais fácil repetir sound bites que vão de encontro aos nossos preconceitos do que ir ao Google e suar imenso a abrir e ler mais meia dúzia de fontes. É tão fácil acabarmos por ser pouco mais do papagaios ou macaquinhos de imitação enquanto estamos convencidos que encarnamos a vanguarda da humanidade: informados, conscientes, autónomos.

Mas ignoremos a minha nota introdutória de dois parágrafos para ler o que importa:

A preguiça e a cobardia são as causas de os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito libertado do controlo alheio, continuarem, no entanto, de boa vontade menores durante toda a vida; e também porque a outros se torna tão fácil assumirem-se como seus tutores. É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um director espiritual que tem em minha vez consciência moral, um médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida.

A natureza humana não mudou assim tanto em 250 anos, pois não?

domingo, 2 de março de 2014

E o Óscar vai para...

Hoje é noite de óscares. Um cerimónia que premeia os melhores filmes do ano para uns, uma teia de lobbies para outros. Para mim é apenas uma motivação para ver bons filmes e fazer as minhas próprias apostas quanto aos vencedores. 

Ao contrário de outros anos consegui ver todas as películas nomeadas para melhor filme.

Nomeados para melhor filme:
American Hustle
Captain Phillips
Dallas Buyers Club
Gravity
Her
Nebraska
Philomena
12 Years a Slave
The Wolf of Wall Street

Será uma luta renhida, todavia, creio que o grande vencedor da noite será 12 Years Slave. É o filme mais intenso dos nomeados, uma história sobre escravidão na América, com imagens arrepiantes e duras, que visam retratar a aspereza da vida em cativeiro.  

No entanto, na minha opinião, Gravity também poderá arrebatar o principal galardão. Os efeitos especiais absolutamente mágicos e a história de sobrevivência cativante, poderão convencer os membros da academia a conceder o Óscar a este filme.

Para as restantes categorias principais, deixo as minhas apostas:

Melhor Realizador: Steve McQueen
Melhor Ator: Christian Bale (Injusta não nomeação de Phoenix, que seria a minha aposta.)
Melhor Atriz: Cate Blanchett (Amy Adams também merecia)
Melhor Ator Secundário: Jared Leto
Melhor Atriz Secundária: Jennifer Lawrence
Melhor Argumento Original: Her
Melhor Argumento Adaptado: 12 Years Slave

No Euromilhões não acerto, veremos se nisto tenho mais sorte...




sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Um referendo sem sentido

Mais importante que o direito dos casais do mesmo sexo a adoptarem uma criança é o direito de todas as crianças a crescerem num ambiente propício ao seu harmonioso desenvolvimento. Este ambiente envolve todas as variáveis mencionadas (referências paternais, reacção da comunidade, blá blá blá etc e tal). Esta avaliação não é política e é independente do referendo. Se os casais do mesmo sexo são piores do que uma instituição a criar uma criança, então mesmo que o referendo seja aprovado por larga maioria, as crianças saem prejudicadas. O inverso é, logicamente, aplicável.

Usar um referendo para substituir esta avaliação largamente técnica é subordinar o direito da criança ao do casal. É um erro fundamental.

Dito isto, toda a evidência científica aponta para que as crianças adoptadas por casais do mesmo sexo que cumprem os mesmos requisitos que um casal heterossexual são tão saudáveis como as demais. Este argumento cai, naturalmente, em orelhas moucas junto daqueles que fundamentam a sua posição com o direito da sociedade a reger o funcionamento da unidade nuclear família, da mesma forma que se opunham ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, apesar de não haver direitos de terceiros envolvidos. Com estas pessoas qualquer discussão é, inevitavelmente, estéril, e como tal não representa um uso inteligente do meu tempo.

Resumindo e concluindo, é um disparate fazer este referendo. Mas se ocorrer, lutarei com unhas e dentes para que seja aprovado. Ganharia a felicidade das crianças que querem uma família que os ame e ganhariam os casais que apenas perseguem o direito a constituir uma família. Estes são direitos humanos e, como tal, não são referendáveis.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A Corte do Norte


Agarrei A Corte do Norte por impulso. Nunca tinha lido nada de Agustina Bessa-Luís e a edição prendou a minha atenção. Capa simples, com a réplica da letra miudinha da autora no lado interior, envolvendo as páginas saudavelmente amarelecidas que um amante de livros em papel (podemos chamar livros aos digitais?) aprecia.

Não fazia ideia do estilo da prosa de ABL nem sequer qual a temática deste romance. Sabendo-a uma dama do Norte, antecipei um enredo passado num grande solar na parte setentrional do nosso rectângulo. Errado. A Corte do Norte leva-nos até à ilha da Madeira de meados do século XIX, onde uma senhora da aristocracia local, Rosalina a baronesa de Madalena do Mar, é mais uma das receptoras da agitação que acompanhou a chegada e estadia da Imperatriz Sissi.

Saltando entre o Funchal e Ponta Delgada, onde o ajuntamento de casas senhoriais deu origem à topografia informal de Corte do Norte, vamos conhecendo sucessivas gerações dos descendentes de Rosalina. De uma forma ou de outra, os sucessivos ramos da árvore familiar viram-se intrigados por esta mulher cuja vida parece ter terminado abruptamente com a queda, acidental ou não, de uma falésia sobre o Atlântico, durante o seu auto-imposto exílio na Corte do Norte. A passagem das décadas é mais fértil em perguntas do que nas respectivas respostas. A certa altura duvidamos que a protagonista, que só conhecemos através das memórias e impressões de outras personagens, tenha chegado a existir. O seu percurso confunde-se, e confunde-nos, com o de várias outras protagonistas desta narrativa.

O caro leitor pode e deve parar desde já de percorrer estas linhas e avançar para as de ABL, cuja fluidez e beleza poética é incomensuravelmente superior ao que quer que um dia venha a sair da minha pena. De facto, mais do que a trama, foi a intensidade da escrita de Agustina que me esmagou. Cada frase é carregada de significado, frequentemente de cariz que a minha ignorância psicanalítica classifica de freudiano. Não poucas vezes parei, reli, voltei para trás. Admito que desisti de entender alguns parágrafos para os quais encontrei nenhuma ou plurais possíveis intenções. Noutros, o conteúdo é pálido na comparação com a estética da prosa, pelo que a leitura inconclusiva nunca é um total prejuízo. Não tenho escapatória a prosseguir a exploração da obra de ABL, assim que recupere o fôlego.

domingo, 15 de setembro de 2013

Barroco Tropical


Terminei há poucos dias de ler Barroco Tropical, de José Eduardo Agualusa. Não leio, por norma, literatura africana. Não por achá-la desinteressante mas, essencialmente, por não ter tempo para ler nem um décimo do que gostava,  focando-me por isso num número mais restrito de temas, inspirações e autores.

No entanto, com Agualusa a história é outra. Ao fim da primeira dúzia de páginas vejo-me imerso em Angola, na Luanda de 2020. A cidade, cheia de contrastes, fascina e horroriza com a mesma intensidade. Em Barroco Tropical vamos sendo jogados entre dois amantes, um escritor e uma cantora, que se movem entre as elites. Convivem com jornalistas, empresários, generais, políticos, empresários-generais-políticos e até com a Senhora Presidente.

Nesta Luanda os ricos vivem em arranha-céus. Os pobres também. Numa Angola pós-bolha das matérias-primas, a construção em altura não encontrou inquilinos endinheirados suficientes. Assim, os andares mais altos são ocupados pelas elites e à medida que nos aproximamos dos pisos térreos, também a sorte dos moradores é mais rasteira. Terminamos nos pisos subterrâneos, ocupados por sociedades regidas pelas suas próprias regras e pelos seus próprios reis. A analogia entre o céu lá em cima e o inferno cá em baixo parece evidente. Mas só à primeira vista.

A vida de sonho dos ocupantes das penthouses depende da sua capacidade de alinharem, ou pelo menos não se incomodarem, com o esqueleto corrupto que dá forma à sociedade e à economia do país. O Medo começa quando se abrem os olhos e sobretudo quando se abre a boca para questionar. O Medo entra em cena e outra Angola aparece nas páginas. Mulheres caem do céu em plena tempestade (na verdade o livro abre com esta cena, não se compadecendo com este meu exercício de organização cronológica). Mulheres que sabem de mais e políticos que falam em excesso passam os seus dias num manicómio que é um labirinto a céu aberto, amarrados a peças de automóveis.

A violência e a repressão são praticadaa a coberto da luta das tradições africanas e das línguas nativas contra o português e a supostamente invasora cultura ocidental. Penas negras, talvez vindas das asas de um anjo da mesma cor, arrancam as verdades de quem as engole. Alguns anjos pretos dançam no cimo dos arranha-céus e outros, incapazes de tolerarem a sua própria existência, voam a toda a velocidade rumo ao solo.

No final das mais de 300 páginas já não olho para os inacabados prédios como uma viagem desde o inferno ao céu. Mais depressa encontro um paralelo com os círculos infernais de Dante. Os supostos vencedores das guerras de Angola vêem o seu país sequestrado por uma mão cheia de poderes. Aqueles que seriam sempre vistos comos os vilões também nos merecem algum respeito, pela forma irredutível como resistem à traição de um ideal em que aprenderam a acreditar e pelo qual se bateram toda uma vida.

Agualusa juntou, para colorir este retrato da distopia angolana, um colorido leque de personagens. Os já referidos amantes, os seus respectivos cônjuges, a modelo que achava ser a Virgem Maria, o sapador que perdeu a cara e se transformou em Rato Mickey, a mãe-de-santo que procurava um jovem preto e acabou com um português velho e o miúdo autista que pinta nas paredes o futuro que será e o futuro que poderia ter sido. Parecem vindos do universo do fantástico mas são incrivelmente plausíveis (o livro induz o gosto por oxímeros).

Quando acabamos de ler alguns livros, sentimo-nos como triufantes alpinistas que atingiram o cume. Quando acabo os livros de Agualusa esfrego os olhos e fico parado a tentar recordar-me dos pormenores do sonho que acabou há poucos instantes e de imediato se escapa entre os dedos. Escrever este texto foi um exercício para tentar contrariar essa perda inevitável.

domingo, 28 de abril de 2013

Sorrir é o melhor remédio


Hoje é o dia mundial do sorriso! Apesar de todo ambiente que o país vive, tempos de ser positivos! Tristezas não pagam dívidas. Se pagassem bastava passar a vida a cantar o fado. Mesmo na agonia, não nos devemos esquecer que há coisas boas, nesta nossa passagem por este calhau que gira em torno do Sol. (tanta coisa para dizer "este mundo").

E cinematograficamente, não podemos falar de sorriso sem falar de Charlie Chaplin. Já tive o prazer de ver várias películas deste histórico realizador/ator/palhaço/compositor e em quase todos eles, Chaplin, encarnando o papel de Tramp (Vagabundo), vive na miséria, mas não deixa de aproveitar o que a vida lhe dá.
 Espalha graça de maneira desajeitada e muda, sempre humilde este mendigo apaixona quem o vê. É preciso muito para ser feliz? Chaplin prova que não há ouro, que valha mais que um amigo ou que um amor.  

Depois deste discurso meloso, gostava de vos sugerir alguns dos filmes de Chaplin que mais me encantaram 

Modern Times de 1937, sobre a revolução industrial e a vida laboral numa fábrica. 



The Kid de 1921, uma história em que Charlot tem um "filho".


City Lights de 1931, onde o "Tramp" se apaixona. 

´

The Great Dictator 1940, sobre a guerra e o nazismo.



Neste dia penso que o destaque devia cair sobre uma pessoa que fez rir milhões de todas as gerações, por isso é que ousei falar deste Senhor.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

As verdades de Miguel Gonçalves


Se há pessoa que tem estado na moda nas últimas semanas é Miguel Gonçalves, o "embaixador" do programa "Impulso Jovem". 
Se neste momento é um risco associar-se a um governo moribundo e, pior, a um ministro na corda bamba, que acabou por cair, a sua abordagem ao tema tem sido de considerável successo. 
Lendo a entrevista de hoje ao jornal i, salvo alguma propaganda inerente à sua intervenção no programa e ao interesse particular no mesmo programa (na parte inicial da entrevista), e ainda alguma ingenuidade, consegui vislumbrar boas ideias e a mentalidade que muitas vezes falta a muito de nós para enfrentar os desafios nas nossas vidas.
Das várias ideias e mensagens deixadas, gostava de destacar algumas:

1 - O facto de ele afirmar haverem muitos empregos disponíveis e a necessidade de esforço por parte dos jovens para se qualificarem e poderem concorrer a esses empregos e estarem à altura dos mesmos, parece-me um bom estimulo para nós jovens. Tem de haver este espirito de contínua aprendizagem, e de saberem comportarem-se num mercado de trabalho longe do que é hoje em dia o ensino teórico das nossas universidades.

2 - A insistência necessária, o não desistir, que ele transmite são importantíssimos nos dias de hoje!

3 - A necessidade de as pessoas se reinventarem, se lançarem e apostarem em si como um produto, podendo parecer materialista, é a chave para o mercado de trabalho de hoje em dia. Já não há um trabalho para a vida, não há uma profissão para a vida. Há sim uma constante adaptação às necessidades e à soportunidades de emprego.

4 - "Eu compreendo os protestos de muitas pessoas. Não compreendo é os protestos de quem não é suficientemente bom, recusa-se a tornar-se bom e pensa que é responsabilidade dos outros elas tornarem-se boas. De repente, sempre que falamos de desemprego, parece que nos esquecemos dos fenómenos das pessoas que vão às empresas pedir para carimbar no IEFP." Esta imagem da realidade que muitas pessoas ignoram ou simplesmente aceitam sem pôr em causa que este tipo de pessoas prejudica todo o país, é fulcrar para abrir os olhos. Não é concebível que não haja punição social para estes casos e que sejam as prórpias pessoas que criticam a situação a que chegou o país a fechar os olhos a estas situações.

5 - Por fim o exemplo que é preciso de trabalhar no duro, desde novo para saber o que é ter o seu próprio dinheiro e de como custa ganhá-lo. É esse espirito empreendedor que precisamos todos para avançarmos!

PS: a forma como o jornal i apresenta a noticia com o excerto "Muitos dos desempregados não querem trabalhar ou são maus a fazê-lo" retirado do contexto, é de um sensacionalismo desnecessário mas que é o pão de cada dia em Portugal....


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Da hipocrisia das elites

Não é todos os dias que destaco o discurso de um político socialista, mas não posso deixar de dar antena ao discurso da líder da União Internacional das Juventudes Socialistas, a espanhola Beatriz Talegón. São dez minutos que devem ter feito corar de vergonha as elites, neste caso as socialistas, sempre cheias de si mesmas falando em nome de quem precisa de ajuda.

Partilho muitas das preocupações de Talegón ainda que seguramente discordemos sobre as soluções para os problemas com que a juventude se depara. Ainda assim, tenho de elogiar a lucidez com que abordou o plenário da Internacional Socialista.

Aqui fica, vale a pena ver até ao fim.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Depois do ocaso dos Porcos...

... o aparecimento dos porcos, em plena A1, como se pode ver nesta galeria de imagens:


Segundo fontes da Fenprof, os porcos terão acordado com o governo guinchar todos ao mesmo tempo, obrigando o motorista do camião a fazer isto:



Claro que sem as mãos no volante, o motorista iria ter um acidente  bloqueando a A1 e impedindo que autocarros cheios de professores chegassem a Lisboa a tempo da manifestação. 

Por isso se virmos um porco assim, nos próximos tempos:


Já sabemos de onde vêm as pérolas. 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O efeito manada de Pepa


O vídeo da Pepa Xavier largamente difundido teve um eco nas redes sociais e na imprensa tremendo. E não consigo perceber porquê. A rapariga diz algumas tontices é certo. Todavia, o espectáculo mediático criado em seu torno parece idêntico ao de um assassinato ou algo do género. Tratava-se de um anúncio, não de um discurso institucional. Foi a melhor propaganda de sempre a uma marca? Não me parece! Mas pegar nisto e crucificar uma jovem, que nunca tinha estado à frente de uma câmara, pareceu-me algo, extremamente excessivo.

Evidentemente, que o discurso não foi o politicamente correto. O país está numa fase muito sensível. Algo dito sem a ponderação padronizada é logo atacado ferozmente. No entanto, deve haver um equilíbrio e evitar extremismos. Deve haver respeito pela diferença.

A rapariga tem um sonho de juntar dinheiro para comprar uma mala cara, está no seu direito! Será resultado do seu esforço e cada um faz com o seu dinheiro o que quiser  É bom ter objectivos!  Nunca ninguém juntou dinheiro para comprar um presente a si mesmo? Quantos de nós têm iPads, iPhones, Tablets, Consolas, Roupa de marca? Será que precisávamos disto? Nunca ninguém namorou algo fútil?

Os ditados populares normalmente encerram mensagens sábias, e para este caso lembro-me do seguinte: Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho.

Cada vez é mais estranho o efeito viral das redes sociais, parece que o efeito manada existe mesmo. Não encontro outra maneira de explicar este caso, ou por exemplo o caso do Psy do Gangam Style. 

sábado, 29 de dezembro de 2012

O meu 2012 em livros, (Parte VI) - Menções solitárias


Menções solitárias


Metallica: Enter Night. Em casa minha só há um dogma: o da divindade de James Hetfield. O santuário ainda não está construído, mas já tenho várias relíquias para lá pôr. Mick Wall, jornalista que me foi introduzido pela voz de um queixoso Axl Rose em “Get in the Ring”, é o autor. Já devorei mais material sobre esta banda do que é saudável e este livro é claramente o melhor que há. A história é toda contada, com mais info do que alguma vez foi revelado. Acaba também por dar uma visão mais equilibrada a um aspecto polémico da banda: Lars Ulrich em particular, e o resto da banda de forma cúmplice, foram bastante mais calculistas sobre a forma de chegar ao estrelato do que admitem. Acho que antes de ler de que forma isto sucedeu tinha medo de confirmar essa ideia. Mas com o livro lido e as coisas explícitas, vejo que não me importa. Isto é uma questão de fé. Avé Hetfield.

Packing for Mars. Mary Roach escreve um bastante curioso livro sobre as questões mais práticas das viagens ao espaço. Não interessa aqui que tecnologia põe o foguetão lá em cima ou que gases há na atmosfera. Aqui o que importa são as dúvidas sobre a reacção do corpo ao espaço, o que é que astronautas hão de comer, como hão de tratar das suas necessidades fisiológicas. Apesar do meu particular ódio a conversas à volta deste último tema, não resisto a relembrar uma hilariante passagem do livro sobre um “fugitivo” que invade a cabine dos astronautas, e que também é tema nesta entrevista da autora a Jon Stewart.

The Daily Show with Jon StewartMon - Thurs 11p / 10c
Mary Roach
www.thedailyshow.com
Daily Show Full EpisodesPolitical Humor & Satire BlogThe Daily Show on Facebook


Fim
Este ano teve mais do que isto, mas só estes não me deixaram indiferente. Para o ano, fica a promessa de voltar ao papel para recuperar o atraso que tenho entre aquilo que fui comprando e as boas ofertas que me fazem.

E como vai ser 2013?


O ano 2012 está a acabar e 2013 está a chegar. Ora nesta altura do ano faz-se o balanço do que aconteceu e fazem-se as previsões do que irá acontecer. 
Deixando o passado para trás vou-me dedicar a nomear alguns dos acontecimentos que vão certamente marcar o ano de 2013 além de mostrar a minha veia de vidente e prever, ou pelo menos desejar, que estes acontecimentos ocorram de determinada forma.  

Começando logo por uma visão geral, teremos a crise do Euro e da Europa em grande plano. Vamos ter eleições em Itália e Alemanha, pelo menos, e quem sabe se também em Portugal. No caso da Alemanha prevejo a vitória de Angela Merkel o que eu saúdo visto que, apesar de um mau começo na gestão da crise, tem vindo a mostrar maior abertura e força politica para manter a união e aguentar a situação na Europa. Pena que as eleições sejam só em Setembro/Outubro visto que quanto mais cedo fossem menor era a pressão sobre Merkel para "agradar" ao eleitorado o que causa sempre maior incerteza e menos decisões concretas no plano europeu.  Já em Itália, ao que parece Mario Monti, pelas noticias de hoje, vai liderar uma coligação de partidos centristas e de esquerda e irá provavelmente ganhar. O que também é bom sinal face ao outro possível candidato, Silvio Berlusconi, que já disse que avançava, já recuou, e agora não se sabe bem afinal o que vai fazer e que se ganhasse seria uma tragédia. Com excepção de algumas situações engraçadas por ele protagonizadas, as trapalhadas em que ele se meteu e a forma como governou Itália no seu mandato são no mínimo assustadoras. 

Quanto à Europa, no seu todo, vai continuar na sendo para acordar uma maior integração fiscal que ainda está meia encravada nas negociações entre países e terá mais um ano dificil para decidir e resolver a crise monetária (já mais estabilizada) e a crise politica que divide cada vez mais o continente e o Reino Unido no qual tem vindo a crescer o número de eurocépticos (ainda recentemente Jacques Delors afirmou a possibilidade de um a reformulação na forma de integração do Reino Unido com este a sair da União mantendo apenas acordos de livre comércio)

Já o mundo estará centrado em algumas questões importantes, desde o possível fiscal cliff nos EUA e a crise da dívida americana, que atingirá o tecto máximo legal permitido em Fevereiro. Certamente uma má notícia se se confirmar apesar de na minha opnião estas questões são sempre ultrapassadas no último instante, na última hora quando todas as partes sabem que têm mais a perder que a ganhar ao manterem-se inflexíveis. Teremos também a queda mais que provável de Assad. A Rússia já retirou parte do apoio, só se mantendo praticamente o Irão. Falta saber se acontecerá o mesmo que a Khadaffi ou se fugirá antes. 
Teremos ainda um novo presidente chinês já indicado como presidente do partido comunista chinês em Novembro último. Contudo não se prevêem grandes mudanças de política face às actuais visto que todos os membros do comité são ainda da geração dos últimos presidentes apesar da influência de Hu Jintao ser menor que a de Yang Zemin. 
Por último teremos ainda o conflito Israel-Irão  cada vez mais intenso e que já se viu mais longe de degenerar numa guerra. A situação no Egipto, com a chegada ao poder de uma facção islâmica mais radical que Mubarak poderá complicar a manobra de Israel que está mais isolado ainda no Médio Oriente.
 
Já no nosso pequeno jardim vamos ter um ano péssimo para a população em geral. A subida de impostos, os cortes na despesa que já estão a ser feitos e que irão ser feitos vão de certeza causar mais insastifação e mais revolta. Estou completamente convencido que as medidas para 2013 não vão chegar para as metas de défice e mais cortes vão ser feitos. Falta saber onde e como. E é aqui que as coisas vão se complicar ainda mais visto que a reacção das pessoas não vai ser a melhor. Porque se há uma coisa que está errada desde inicio é o trazer novas medidas a conta gotas em vez de uma vez só avançar com todas os cortes e aumentos de impostos necessários. Era mais curto e menos causador de instabilidade económica, política e emocional. 
Para além disto, também vamos a votos para as autarquias (se não houver processos pendentes em tribunal devido à reforma autárquica). Chamaria a atenção para o Porto, com Menezes a ter a mais que provável vitória, Lisboa onde deve ganhar António Costa, Cascais onde José Castelo Branco será o novo presidente da câmara (ou então não...) e principalmente em todas câmaras onde os chamados "dinossauros" vão deixar os seus cargos. Será que vão ganhar os seus sucessores políticos ou teremos uma viragem de cor paridária. E mais interessante, será que teremos efeitos políticos da imagem desgastada do governo, ou não? A mim parece-me que não terá grande influência já que a realidade local normalmente não é confundida com a nacional, mas a ver vamos.

Numa vertente mais descontraída, teremos em 2013 grandes acontecimentos. No cinema: desde grandes filmes a estrear já no ínicio do ano, Lincoln e Django à cabeça, aos Óscares onde espero que filmes como o Batman, Hobbit tenham nomeações mas provavelmente não vão ter grandes prémios. Espero, no entanto, que "Amor" que já ganhou a Palma de Ouro seja um dos prováveis vencedores de Óscar de melhor filme estrangeiro. No desporto: teremos a vitória do FCPorto no campeonato nacional (para prever isto não era preciso ser vidente), teremos a mais que provável saída de Mourinho do Real Madrid e o retorno de Guardiola ao activo. Na música: provavelmente alguma banda decente vai lançar um album no próximo ano mas não estou muito a par disso... mas em termos de concertos temos o Justin Bieber em Lisboa (Yey!...ou então não...) Bon Jovi em Lisboa também, os GNR no coliseu em formato acústico e mais intimista, e todos os outros festivais de Verão sempre com grande música. Teremos ainda, para quem gosta de música e dança, o festival Andanças de volta ao seu formato de uma semana inteirinha de dança!

E há mais, muito mais mas, por agora, desejo a todos um óptimo 2013 tanto bom ou melhor que 2012.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Why Nations Fail


Terminei hoje de ler este livro publicado este ano, sobre as causas do desenvolvimento de alguns países e da incapacidade de outros ultrapassarem a miséria. A teoria avançada por Daron Acemoglu e James A. Robinson assenta exclusivamente na natureza das instituições políticas e económicas das nações. Ao longo de quase 500 páginas, os autores apresentam inúmeros casos históricos de sucesso, de insucesso e de sucessos que acabaram por colapsar, como Veneza na Renascença ou a Argentina já no século XX.

A dicotomia chave a reter desta obra é a de instituições económicas e políticas inclusivas contra instituições extractivas. No caso das primeiras, a maioria da população tem capacidade de se fazer ouvir e há liberdade para desafiar as estruturas económicas e políticas existentes. Assim, há espaço para a inovação e consequentemente para um crescimento sustentável. Os exemplos clássicos são o Reino Unido a partir do final do século XVII e os Estados Unidos desde a sua génese. Do outro lado, temos estruturas extractivas em que uma pequena elite política sobrepõe-se ou pactua com uma elite económica subvertendo a economia para seu exclusivo benefício.

Ambos os tipos de estrutura alimentam ciclos que se auto-alimentam, virtuosos num caso e viciosos no outro. Nos casos de sucesso, um sistema político aberto à população em geral é mais difícil de subverter, a imprensa é um contrapeso permanente às elites instaladas e a dispersão do poder económico torna o controlo do regime menos tentador. No caso das instituições extractivas os incentivos à mudança dificilmente são sentidos pelas elites e os regimes são inerentemente instáveis, como foi o caso da civilização Maia, mas também de muitos regimes africanos.

O crescimento em sociedades extractivas é possível, mas considerado sempre insustentável no tempo. O exemplo mais conhecido é o da União Soviética. Longe de defenderem o paradigma chinês, como está em voga em alguns círculos económicos, os autores defendem que no médio prazo as instituições do império do meio terão de se tornar mais democráticas e competitivas para poderem manter o progresso económico. A saída do ciclo vicioso implica sempre uma abertura do poder a uma coligação abrangente de sectores da sociedade. Por esta razão, dificilmente revoluções orquestradas por pequenos grupos dão lugar a um resultado diferente da substituição de um regime extractivo por um outro de natureza semelhante. Mais uma vez, os vários golpes de estado do continente africano vêm à nossa memória.

Ao articularem a sua teoria, Acemoglu e Robinson rejeitam liminarmente outras explicações para a divergência económica, nomeadamente os factores geográficos e de dotação de recursos naturais ou o nível de conhecimento das elites. Consequentemente, os autores condenam ao fracasso os esforços de ajuda financeira internacional aos países mais pobres. Argumentam, dando o exemplo do Afeganistão, que a esmagadora maioria dos recursos alimentam a burocracia das organizações internacionais e, tragicamente, são canalizados por e para as instituições extractivas que explicam o subdesenvolvimento em primeiro lugar.

Considero a explicação dos autores muito persuasiva, embora não rejeite totalmente o papel de outros factores no desenvolvimento. Acemoglu e Robinson reconhecem o carácter contingencial da história, isto é, das circunstâncias. Penso que a geografia, os recursos naturais ou a formação das elites podem ser decisivos para que os acontecimentos se desenvolvam de forma positiva ou negativa. O aspecto menos positivo do livro é que, na minha opinião, a ânsia de basear a teoria em casos concretos leva os autores a tornar-se algo repetitivos.

Reconhecendo as limitações do modelo proposto, ainda assim recomendo sem quaisquer reservas a leitura deste livro. Não só nos ensina a olhar para o mundo à nossa volta com outra perspectiva, mas também nos dá um sem número de casos históricos e curiosidades. Do nascimento da civilização, ao império romano, à dinastia Ming e aos shoguns japoneses, passando pelas civilizações das Américas e ao papel da peste negra no desenvolvimento da Europa, é um livro que nos enriquece desde as primeiras páginas. Para os curiosos, os autores têm um blogue em que abordam diversos temas históricos e da actualidade à luz da sua teoria do desenvolvimento. Podem encontrá-lo aqui.

O meu 2012, em livros (Parte V) - Política


Política
The Dictator's Handbook, de Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith, é mais um dos excelentes livros que li este ano. Serve para divulgar o trabalho académico destes investigadores, que tentam explicar comportamentos de exercício e manutenção de poder por ditadores, líderes democráticos e até CEOs com um pequeno modelo de aspectos relativamente simples. Basicamente, a ideia é que o que importa é a dimensão de diferentes grupos numa sociedade: aqueles que formam a coligação que sustenta o líder  e aqueles que podem vir a ter influência na mudança. Numa ditadura, em que há um pequeno grupo que forma a coligação vencedora, um líder que queira manter o poder apenas tem que agradar a esse pequeno grupo, bastando para isso distribuir bens por eles e podendo ignorar políticas e a oferta de bens que beneficiem o público em geral, já que este têm pouca influência. Numa democracia essa coligação vencedora já terá de ser maior, pelo que será mais vantajoso ao líder realizar melhores políticas do que tentar subornar cada elemento. Há também jogos de poder entre o líder e a sua coligação de apoio, dado que a capacidade que o primeiro possa ter para substituir elementos do segundo influencia a dimensão do “suborno” e do quanto pode o líder guardar para si. É mesmo um livro bastante interessante, que com um pequeno enquadramento consegue aparentemente explicar muitos fenómenos de diferentes contextos. Semelhante ao Political Economy of Dictatorship, de Ronald Wintrobe, que também é interessante para estudantes de economia interessados em modelizar aspectos de política.

Confidence Men, de Ron Suskind, relata boa parte do primeiro mandato de Obama no contexto da crise financeira. Ignorando as partes mais relacionadas com o que realmente aconteceu em Wall Street, história para a qual a minha paciência já há muito se esgotou, o livro é interessante exactamente porque cumpre o que promete: dar a sensação de estar na sala a assistir às discussões entre o Presidente e os elementos do staff. Vemos um Obama claramente inexperiente, altamente influenciado por elementos ligados à adminsitração Clinton (Larry Summers, Timothy Geithner, Rahm Emanuel), principalmente no que toca a assuntos económicos. Estes elementos limitam o debate, que poderia ser útil para um presidente que aparenta ter demsiadas ideias pré-concebidas sobre economia. Combinando estes aspectos com um bem intencionado mas talvez “ill-timed” foco na reforma do sistema de saúde em pleno colapso da economia e do sistema financeiro, confirma um receio que já se tinha há algum tempo: Obama pode ter muitas qualidades, mas salta para o posto demasiado cedo. Gostava de ter visto o que teria feito uma muito mais experiente Hillary Clinton nas mesmas situações. Go Hillary 2016?

Em ano de eleições nos EUA, Nate Silver foi protagonista após acertar a 100% nos resultados das eleições presidenciais em cada estado. Terá sido boa promoção para o seu livro, The Signal and the Noise, que se dedica a explorar como é que diferentes áreas, desde o baseball até à política, a sismologia e a metereologia, conseguem tratar os dados que têm e isolar o que é realmente importante e o que é “barulho”. O livro é bom; escrito por outro autor seria o suficiente para ficar maravilhado. Mas lê-lo em plena campanha eleitoral, a acompanhar o seu trabalho diariamente e não ler uma palavra sobre os métodos que o próprio utiliza (embora fale de outros) para o trabalho que faz no blog FiveThirtyEight acabou por ser desapontante. Muito bom mesmo assim.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte IV) - Economia Light e semelhantes

Economia light e semelhantes

Há muitos que não lia tão pouco sobre economia por lazer, provavelmente consequência do trabalho que já a bastante me obrigava no campo. Com final do curso, a disrupção da mudança de local e de vida, e a sensação de que pelo menos algum do caminho base no campo já está percorrido, outros tópicos foram mais apelativos. Por isso só terá sobrado paciência para aqueles livros de economia "light". Deu para finalmente admirar Dan Ariely em The Upside of Irrationality, mais um dos livros que traduzem para o público resultados curiosos de investigação académica. Não é que seja particular fã do que normalmente se apelida economia comportamental (ou pelo menos alguma da histeria à sua volta deixa-me céptico), mas o livro é bom. É melhor que Superfreakonomics. E é melhor do que Adapt: Why Success Always Starts with Failure, de Tim Harford, o meu desgosto do ano. 


Harford escreveu talvez o segundo livro de economia que eu li na juventude, "O Economista Disfarçado", que me marcou imenso e influenciou a minha escolha de carreira. Uns anos mais tarde li "A Lógica Oculta da Vida", mais um pequeno livro repleto de ideias interessantes. Num movimento que parece ter sido calculado para o tornar um autor de referência, Harford desta vez fez o contrário: escreveu um livro extenso com uma única ideia. Se calhar fez bem; muitos fazem sucesso assim (Chris Anderson, Malcom Gladwell). E permite-o ficar mais associado a uma ideia específica e dar-lhe maior capacidade de influência, enquanto os livros anteriores eram sínteses de muitas ideias de outros autores. Mas Adapt é longo; e a ideia que defende é tão boa que era desnecessário andar em círculos. Ainda está por acabar; não sei se terei vontade de o fazer. Gladwell, que só este ano tive oportunidade de ler, é que faz isto como quase ninguém. Mas ainda assim, quando um livro só tem uma ideia, ou ela é mesmo boa e os exemplos são mesmo interessantes, ou então não há salvação. É por isso que Outliers, sobre as circunstâncias que levam à excelência, é bom; que The Tipping Point, sobre como pequenos pormenores que influenciam uma cascata de consequências, é razoável, e que Blink, sobre a capacidade de percepção quase inconsciente que têm os especialistas, é aborrecido.


De Michael Lewis, para além de Moneyball, este ano passou-me pelas mãos The Big Short: Inside the Doomsday Machine, sobre a crise; e no ano passado tive "Liar's Poker", sobre os excessos vividos pelo próprio em Wall Street há umas décadas. Não sei se é dos livros, se é de umas crónicas sobre a crise europeia que achei disparatadas; mas sinto-me algo isolado na minha incapacidade de gostar do seu trabalho. Falta-me Boomerang, sobre as suas viagens pela Europa nos tempos de crise.

Filmes de Natal

Nesta altura do ano, a lamechice apodera-se do meu coração como um eucalipto plantado num pedaço de terra. E, os filmes de natal foleirões e sempre com um final feliz (o chamado happy ending...), que proliferam nos nossos canais de televisão, conseguem-me prender ao ecrã. Não sei como é possível, se calhar é da elevada dosagem de açúcar que injecto e que alegremente passeia no meu organismo. Passeia e gosta tanto, que depois é difícil mandá-lo embora. 

Sendo assim, resolvi partilhar neste espaço blogosférico, o meu top 5 de filmes natalícios:

5 - Ben Hur

No quinto lugar resolvi colocar um filme sobre o qual escrevi num post, no outro blogue para o qual, humildemente contribuo,  
"Ben-Hur" de 1959, nomeado para doze Óscares e galardoado com onze,é um dos três filmes  de sempre, com mais estatuetas douradas, empatado com Titanic de 1997 e O Senhor dos Anéis - O regresso do rei de 2003. Lembrei-me desta película, pois a cena inicial retrata o nascimento de Jesus. No entanto, a história de Jesus Cristo é secundária e paralela cronologicamente, em relação ao desenlace da história da personagem principal Judah Ben-Hur. Um filme marcante pelo argumento notável e pelos fortes temas que retrata, tais como a escravatura ou a lepra. Lembra-nos que um dia somos capatazes, mas que no dia seguinte poderemos ser escravos. E que doenças como a lepra, mais que a dor física que provocam, desgastam dolorosamente qualquer espírito, inundado-o de vergonha. Hoje, curiosamente, irá passar na Sic um remake deste filme.  




4- Die Hard (Assalto aos Arranha-Céus)

Ao construir este top, decidi ser ecléctico. Por isso, escolhi um filme bíblico (Ben Hur), um filme de animação (Shrek), um filme a preto e branco (Its a Wonderfull Life), um filme de domingo à tarde (Sozinho em Casa) e um filme de acção,  Die Hard. A acção do Assalto ao Arranha-Céus decorre em Los Angeles, e tem como epicentro John McClane (Bruce Willis), um polícia Nova Iorquino que vem passar o Natal com os filhos e com a ex-mulher. Contudo, quando dá por ela, está no meio de um roubo/sequestro na sede de uma grande empresa japones, e tem de salvar o dia. Um filme de acção cru, mas cheio de tiradas engraçadas. Recordo 3 das mais famosas quotes:


  • Harry Ellis: Hey babe, I negotiate million dollar deals for breakfast. I think I can handle this Eurotrash. 
  • John McClane: You throw quite a party. I didn't realize they celebrated Christmas in Japan. Joseph Takagi: Hey, we're flexible. Pearl Harbor didn't work out so we got you with tape decks. 
  • Supervisor: [as McClane tries to call up police] Attention, whoever you are, this channel is reserved for emergency calls only. John McClane: No fucking shit, lady. Does it sound like I'm ordering a pizza?
Um filme ideal para desenjoar de tanta doçura natalícia.

3- It s a Wonderfull Life (Do céu caiu uma estrela)

Um dos filmes que mais me marcou! Quantos de vós, já se questionaram sobre o sentido da vida? Muitos, provavelmente. Este filme é simplesmente sobre isso. O sentido da vida, e o quão diferente seria o mundo, se nós não tivéssemos vivido no tempo em que vivemos. Tudo seria diferente e se acreditamos que somos boas pessoas, então, tudo seria diferente para pior. Não ajudaríamos os nossos amigos, a nossa família, o impacto seria negativo. A mensagem deste filme é apenas esta. Todos nós temos o nosso espaço e o nosso momento. Somos uma migalha neste universo, mas uma migalha pode fazer a diferença. 
Este clássico de Natal é do realizador Frank Capra, nomeado para 5 Óscares da academia, e conta com o enorme James Stuart no principal papel. 
Um filme introspectivo, ideal para ver, entre a quadra natalícia e o fim do ano, altura ideal para fazermos o balanço e pensarmos em que é que podemos melhorar no ano vindouro. 



2- Saga Shrek

Adoro ver um belo filme de animação nesta época. Poderia ter escolhido muitos outros, o Toy Story, Os 101 Dálmatas, O Rei Leão, O Ratatui, mas resolvi escolher o Shrek. Escolhi-o simplesmente, porque é extremamente cómico, e rir foi sempre e será o melhor remédio, ainda mais numa época em que se fala em dinheiro, ou na falta dele e em crise. Penso que todos conhecem o filme e as aventuras e desventuras do Ogre, do Burro e do Gato das Botas. Devo confessar que gosto das dobragens dos filmes de animação feitas em Portugal. Muitos criticam e não gostam, mas penso que cá é feito um trabalho muito competente nesse aspecto. Além disso, temos que ver que o target principal, desta categoria de filmes são as crianças. Já não acho piada nenhuma aos filmes, sem ser de animação dobrados. Esses ficam extremamente estranhos pela falta de coordenação entre o som e o movimento de boca dos atores, lembram-me as novelas mexicanas, que passavam em Portugal nos anos 90. Acho que a dobragem do Shrek é particularmente feliz. E claro, amanhã conto ver o especial de Natal Shrek. 



1 - Home Alone 1 e Home Alone 2 (Sozinho em Casa)

Em primeiro lugar, acabo com um peso pesado do cinema natalício, os filmes do Sozinho em Casa são verdadeiros clássicos desta quadra. O garoto dos dois primeiros filmes, de seu nome Macaulay Calkin, tornou-se uma big star, graças a esta saga. Ficou milionário aos dez anos, devido ao sucesso dos seus filmes, infelizmente foi burlado pelos próprios pais, que lhe ficaram com grande parte da fortuna. O que é certo, é que este miúdo de cabelo doirado e ar angelical, diabólico para com os ladrões, Daniel Stern e Joe Pesci (o grande Joe Pesci), conseguiu emocionar gerações de espectadores. A história penso que todos a conhecem e resumidamente é: O miúdo fica sozinho em casa, aparecem os ladrões e ele engana os ladrões, simples. 
Para terminar, tenho de destacar a excelente banda sonora. As músicas entoadas pelos coros da igreja são extraordinárias. Mais, são divinas! 


Resta-me desejar a todos um bom Natal! 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte III) - Desporto

Desporto

Eu gosto de jogar xadrez. Infelizmente, e como noutras situações, ganho com isso a fama de cromo sem ter o proveito de ser um jogador decente. Mas sei o suficiente para poder desfrutar de livros não técnicos, ou filmes. Endgame, sobre a vida de Bobby Fischer, nem exige tanto. Lido em menos de 24 horas, este livro é tão bem escrito, que foi impossível parar. Mais uma biografia, segue a vida do xadrezista numa ascensão que ilustra muito a teoria das 10,000 horas para a excelência que Malcom Gladwell popularizou em “Outliers” (noutra parte deste texto). Os pormenores e intrigas que Fischer viveu no jogo, em parte verdadeiros, mas em boa parte resultados de uma mente perdida que chega a criar repulsa na fase final da vida, enchem as páginas do retrato de mais um génio insano.




I Am The Secret Footballer, escrito anonimamente por um profissional inglês do campeonato principal que também é colunista no The Guardian, conta como o futebol é visto por quem nele participa dentro de campo. Toca em muitos temas, desde os tempos de formação, as transferências e contratos, os adeptos, o dinheiro, as tácticas. É interessante e está bem escrito; só dispensava as histórias de festa e saídas. The Football Men, de Simon Kuper, é um livro de curtas crónicas; o escritor é bom, mas ou se é familiar com os nomes em causa, ou então boa parte não se aproveita. Já Why England Lose, do mesmo autor e escrito em conjunto com o economista Stefan Szymanski é uma mistura interessante do estilo Freakonomics com futebol. Não conhecendo os detalhes da investigação académica de fundo, o livro utiliza as ferramentas que são familiares para, entre outros temas engraçados, desculpar a Inglaterra das suas "frequentes" derrotas. É também uma tentativa de trazer para o futebol alguma análise estatística como foi feito no baseball, popularizado no relato de Michael Lewis em Moneyball. Apesar de perceber o apelo do livro, não percebendo nada do desporto nem conhecendo as figuras, podia dizer que foi uma perda de tempo, não fosse pelo facto de ter sido introduzido à curiosa peronsagem de Billy Beane, General Manager dos Oakland A's. Mas meio livro foi mais que suficiente para isso.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte II) - Alemanha

Alemanha
Se antes disse que vivi numa cidade de facto trilingue, bem que podia juntar mais uma língua do país à cidade em que vivi também. O alemão é uma das três línguas oficiais da Bélgica. Isto acontece apenas devido a uma pequena região fronteiriça que foi transferida para o país da batata frita após o Tratado de Versailles no final da 1ª Guerra Mundial. Os nazis ainda lhes deitaram a unha na 2ª Guerra, mas não por muito tempo. Mas nas ruas de Bruxelas, e em particular na zona das instituições, ouvir-se falar alemão é frequente. Não deveria ter sido a surpresa que foi para mim. E não era só na rua que eles estavam em maioria, em casa também.

Não sei, mas acredito que todos os povos se auto-analisem de forma massiva. Mas para alguns deve ser mais difícil. Apesar de uma amostra relativamente pequena para um povo tão grande, vi as diferentes partes que já imaginava: a alemã que pensa que os espanhóis são todos uns preguiçosos que queriam uma casa na praia; a assistente parlamentar de uma colega de Merkel que parece não conseguir disfarçar o que sente, mais do que o que pensa, enquanto discutimos eurobonds; o alemão socialista cauteloso com as palavras, de opinião respeitosa e equilibrada, a alemã de esquerda incapaz de disfarçar o incómodo de ouvir o hino nacional e que não é particular fã de ver a bandeira do país espalhada pelas ruas, coisa que se começou a generalizar por alturas de torneios da bola desde 2006. Não sei se é um sentimento de culpa de que se apropria, medo que se abra alguma caixa de Pandora, ou apenas necessidade de garantir distanciamento de elementos que ainda queiram ressuscitar velhos fantasmas. (tema de um artigo recente não muito bem escrito, mas que tem dado de falar, no Der Spiegel)

 

Germany: Unravelling an Enigma não desvendou enigma nenhum. Tem pontos interessantes, e até pode ser um bom guia de como “ser romano em Roma”. Mas fui iludido pelos pequenos passeios históricos da primeira metade do texto. Num registo completamente diferente, Hitler, de Ian Kershaw, é uma obra extraordinária. Em primeiro lugar, pelo tom equilibrado que o autor atinge em 1000 páginas de texto sobre uma figura destas. Quando os factos falam por si, não são precisas muitas palavras para sublinhar o nojo causado. Kershaw descreve toda a vida do ditador, deixando perceber como a criação do mito do líder e o distanciamento em relação aos subordinados, ao mesmo tempo que foi inevitável para assegurar a sua sobrevivência sem demasiadas purgas internas (como fez Estaline), criou também os mecanismos que instigaram os horrores conhecidos, enquanto os seguidores se esforçavam para tornar as suas visões inicialmente hiperbólicas em realidade. A rápida ascensão ao poder de um partido insignificante é também uma história notável, assim como o jogo político que leva às primeiras “vitórias” pré-guerra contra uma Europa ainda demasiado tímida. Essas vitórias levam a uma crença nas próprias capacidades muito para além da realidade; Hitler convence-se da sua infalibilidade, receita certa para o colapso nos anos finais da guerra. Até que, coerente como sempre, “percebe” em Abril de 1945 que o próprio povo alemão fracassou e merece o que lhe está a acontecer. Hitler é uma figura repelente até ao último momento da sua vida; alguém que, por um conjunto de acasos da história conseguiu ultrapassar cada obstáculo que deveria ter sido intransponível; alguém que pesará ainda por muito tempo na consciência colectiva alemã e europeia. É frequente dizermos que essa memória tem de ser preservada, para que não se repita. É preciso então também que não seja desvalorizada com comparações estúpidas entre 1942 e 2012.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte I) - Kindle, Línguas

Kindle

Nunca rejeitei a ideia dos e-books. Detesto ler no computador ou num telemóvel, mas sempre imaginei a experiência num leitor de e-books bem desenhado pudesse ser boa. Miguel Góis escreveu em 2003 no blog do Gato Fedorento:
«Cada vez que se fala no e-book, há sempre alguém que diz: “Que horror! Eu não consigo passar sem o cheiro dos livros”. Confesso que sou esquisito: não compro os livros em função do seu cheiro. Assim como não compro perfumes em função da sua estrutura narrativa.»
Eu diria mais ou menos o mesmo. Umas semanas numa viagem em que a mala só levou um livro que não me apetecia ler convenceram-me. E um novo melhor amigo chegou, numa fria manhã de Fevereiro ao centro da Europa, após atravessar um (ou mais) oceano(s). Ficámos inseparáveis, no ano em que mais páginas percorri. E aqui partilho parte daquilo que aprendi com elas.





Línguas

2012 foi para mim ano dos idiomas (escolhi esta palavra só para não escrever a frase «2012 foi para mim o ano das línguas»). O interesse era antigo, ainda que adormecido. Mas se não acordasse agora, nunca mais aconteceria. É o que dá viver numa cidade oficialmente bilingue, mas de facto trilingue, e num país oficialmente trilingue mas tetralingue (?). Subi e desci elevadores em Torres de Babel, tive auscultadores mágicos que traduziam para 22 línguas o que se ouvia. Os transportes públicos, anúncios publicitários e placas da rua eram bilingues. Os colegas de casa vinham de muitos sítios; e até os que eram do próprio país chamavam a atenção pela forma como alternavam sem sobressalto em qual das línguas oficiais conversavam.

No ano passado li Through the Language Glass, de Guy Deutscher, um livro moderadamente interessante que discutia a possibilidade de a língua influenciar a forma como vemos o mundo. Este ano foi The Unfolding Of Language que tão bem me ocupou. O livro fala do aparecimento das línguas, da evolução que elas sofrem ao ponto de se tornarem quase irreconhecíveis. Mas o que mais me atraiu foram os estapafúrdios detalhes de gramática que há por aí: a inacreditável conjugação de verbos no árabe, a ordens das palavras em diferentes línguas, as declinações do latim que algumas línguas herdaram. E o livro faz perdoar as irregularidades que tantas dores de cabeça dão na aprendizagem de línguas: elas são resultados inevitáveis do processo de evolução, de simplificação e reconstrução.


 

Houve quem tentasse escapar a elas, criando línguas fáceis de aprender (Ido, Interlingua), ou que não dessem azo a ambiguidades (Loglan, Lojban), ou que colorissem mundos de ficção (Klingon). Outros tinham objectivos mais utópicos, a crença de que uma língua comum à humanidade permitiria unir os povos e evitar as separações que fomentam conflitos (Esperanto). É o trabalho de esforçados mas anónimos criadores de línguas que Arika Orenta relata em In the Land of Invented Languages. Um livro de rápida leitura (um feriado chegou), muito interessante com personagens loucas atrás de uma utopia irrealizável. David Bellos em Is That a Fish in Your Ear? aborda de forma interessante, mas com pouca direcção, as dificuldades de reproduzir noutra língua tanto significado que um autor pode querer passar num texto.


Mas com tanta exposição às línguas dos outros, acabei por perceber o poder que a minha tem. Obrigado aos Pluto e ao Governo Sombra, na altura por me trazerem a casa; e agora, por me levarem de volta.