segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A Corte do Norte


Agarrei A Corte do Norte por impulso. Nunca tinha lido nada de Agustina Bessa-Luís e a edição prendou a minha atenção. Capa simples, com a réplica da letra miudinha da autora no lado interior, envolvendo as páginas saudavelmente amarelecidas que um amante de livros em papel (podemos chamar livros aos digitais?) aprecia.

Não fazia ideia do estilo da prosa de ABL nem sequer qual a temática deste romance. Sabendo-a uma dama do Norte, antecipei um enredo passado num grande solar na parte setentrional do nosso rectângulo. Errado. A Corte do Norte leva-nos até à ilha da Madeira de meados do século XIX, onde uma senhora da aristocracia local, Rosalina a baronesa de Madalena do Mar, é mais uma das receptoras da agitação que acompanhou a chegada e estadia da Imperatriz Sissi.

Saltando entre o Funchal e Ponta Delgada, onde o ajuntamento de casas senhoriais deu origem à topografia informal de Corte do Norte, vamos conhecendo sucessivas gerações dos descendentes de Rosalina. De uma forma ou de outra, os sucessivos ramos da árvore familiar viram-se intrigados por esta mulher cuja vida parece ter terminado abruptamente com a queda, acidental ou não, de uma falésia sobre o Atlântico, durante o seu auto-imposto exílio na Corte do Norte. A passagem das décadas é mais fértil em perguntas do que nas respectivas respostas. A certa altura duvidamos que a protagonista, que só conhecemos através das memórias e impressões de outras personagens, tenha chegado a existir. O seu percurso confunde-se, e confunde-nos, com o de várias outras protagonistas desta narrativa.

O caro leitor pode e deve parar desde já de percorrer estas linhas e avançar para as de ABL, cuja fluidez e beleza poética é incomensuravelmente superior ao que quer que um dia venha a sair da minha pena. De facto, mais do que a trama, foi a intensidade da escrita de Agustina que me esmagou. Cada frase é carregada de significado, frequentemente de cariz que a minha ignorância psicanalítica classifica de freudiano. Não poucas vezes parei, reli, voltei para trás. Admito que desisti de entender alguns parágrafos para os quais encontrei nenhuma ou plurais possíveis intenções. Noutros, o conteúdo é pálido na comparação com a estética da prosa, pelo que a leitura inconclusiva nunca é um total prejuízo. Não tenho escapatória a prosseguir a exploração da obra de ABL, assim que recupere o fôlego.

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