domingo, 12 de outubro de 2014

Liberdade e comodismo

Na conferência "À procura da Liberdade" da semana passada, em Lisboa, foi distribuída uma pequena antologia sobre o tema, com autores desde a Antiguidade Clássica até ao final do século XX. O livro é pequeno e de cada autor foi seleccionado no máximo um pouco mais de uma página.

De todos os textos houve um que me pareceu particularmente oportuno. Immanuel Kant respondeu, no final do século XVIII, à pergunta: "O que é o Iluminismo". O filósofo alemão observou que não basta ao homem estar liberto do controlo de outrem se insistir em não pensar pela própria cabeça. Neste início do terceiro milénio, em que um volume ímpar de informação está disponível da forma mais confortável, na ponta dos nossos dedos, continuamos a sucumbir aos mesmos vícios apontados no texto. É tão mais fácil repetir sound bites que vão de encontro aos nossos preconceitos do que ir ao Google e suar imenso a abrir e ler mais meia dúzia de fontes. É tão fácil acabarmos por ser pouco mais do papagaios ou macaquinhos de imitação enquanto estamos convencidos que encarnamos a vanguarda da humanidade: informados, conscientes, autónomos.

Mas ignoremos a minha nota introdutória de dois parágrafos para ler o que importa:

A preguiça e a cobardia são as causas de os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito libertado do controlo alheio, continuarem, no entanto, de boa vontade menores durante toda a vida; e também porque a outros se torna tão fácil assumirem-se como seus tutores. É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um director espiritual que tem em minha vez consciência moral, um médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida.

A natureza humana não mudou assim tanto em 250 anos, pois não?

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