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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Mais umas vitórias assim e ficamos arruinados

Na semana passada celebrou-se pelo sul da Europa a "vitória" de Mario Monti e Mariano Rajoy sobre Angela Merkel na última Cimera. O Público intitulava a sua notícia sobre a cimeira "Itália e Espanha vergam Alemanha para proteger o euro".

A necessidade de obter da Alemanha a concordância para a aplicação de medidas é essencial para resolver os problemas da zona euro. Mas não nos podemos esquecer que Merkel está entalada entre uma opinião pública alemã desconfiada das intenções da restante Europa, e uma situação quase catastrófica nas economias parceiras. E por mais que até quisesse avançar com maiores garantias (mas não digo que o queira), teria sempre que lidar com os constrangimentos e as limitações políticas domésticas, esses sim, os maiores inimigos dos líderes do Sul da Europa. Por isso é preciso algum cuidado na mensagem a transmitir após uma cimeira em que se obtém concessões. E o pior que se pode fazer é o que se fez; falar da cimeira em termos de vitórias e derrotas, dando a impresão que se lhes sacou alguma coisa e dando ao eleitorado daquele país todas as razões para os receios que têm. Barroso tocou no assunto num discurso agressivo esta semana no Parlamento Europeu em Estrasburgo exactamente sobre estas mensagens de vitória e derrota após a cimeira. Resultado: a CSU, que é, no fundo, o partido de Merkel (CDU) para a região da Baviera, embora tenha uma estrutura independente, faz ameaças à estabilidade governativa naquele país se Merkel continuar a ceder. 150 economistas, liderados por Hans-Werner Sinn, provavelmente o economista com maior influência na opinião pública alemã, assinam um manifesto contra mais ajudas europeias. O impacto disto é que agora qualquer posterior concessão alemã será ainda mais difícil, pois Merkel fica com ainda maiores constrangimentos políticos domésticos.

Ganhem mais cimeiras sim, mas mantenham a boca fechada no final por favor.

sábado, 12 de novembro de 2011

O palhaço sai de cena. E agora?


Acabou hoje a carreira política de Berlusconi. Não posso deixar de me alegrar com a saída de cena de uma das figuras mais tristes da história recente do nosso continente. O consulado de "Il Cavaliere" ficará na memória popular pelos inúmeros escândalos sexuais e pelas infelizes intervenções humorísticas a que recorria frequentemente, tantas vezes marcadas pelo machismo. Este monopólio do domínio do patético seria suficiente para o considerar uma nódoa e uma doença grave da democracia Italiana.

Porém, mais grave para o futuro do seu país e da Europa, foi o uso que Berlusconi fez do poder. Foi eleito pela primeira vez com uma aura de homem de negócios bem sucedido, a pessoa ideal para desbloquear o eterno marasmo da economia italiana. Ao longo dos seus vários mandatos na última vintena de actos fez exactamente o contrário: deu continuidade ao sistema de interesses instalados, favorecendo os seus aliados. Foi mudando aqui e ali, para que tudo ficasse na mesma, parafraseando Giuseppe di Lampedusa. Na política externa foi criando a aversão dos seus parceiros europeus, mas não lhe faltaram aliados. Os preferidos eram Kadafi e Putin. Neste último mandato teve uma única preocupação, alterar a legislação para salvar a própria pele das acusações de crimes económicos e, mais recentemente, sexuais.

O resultado é conhecido de todos. Uma economia estagnada (na última década só o Haiti e o Zimbábue cresceram menos), com uma dívida superior a 100% do PIB que, com a recente desconfiança dos mercados, ameaça entrar numa espiral rumo à insolvência. Por arrasto ameaça levar a já debilitada Zona Euro. Berlusconi sabia disto, mas para espanto de todos continuou a protelar toda e qualquer reforma. Só a humilhação pública o impeliu a encetar tímidos esforços reformistas.

Feito o obituário, interessa olhar para o futuro. A Itália é solvente se tiver juros suportáveis. Com um saldo orçamental primário positivo (isto é, antes de juros), facilmente reduziria o seu endividamento se fossem feitas reformas estruturais que libertassem a economia e a pusessem a crescer. Ao que tudo indica o país terá agora um primeiro-ministro tecno e eurocrata. Possivelmente será o melhor para iniciar as reformas. Mas a confiança dos investidores não se recupera rapidamente. Entretanto só o Banco Central Europeu pode assegurar que os juros não sufocam a Itália (e a Espanha). Para tal, será preciso coragem em Frankfurt, mas também o apoio claro de Berlim.

No entanto, o duo Merkozy e a restante UE não podem esperar que sejam os nomeados de Bruxelas a implementar as mudanças radicais que os países da Europa periférica necessitam. As reformas estruturais serão duras e terão impactos sérios na vida de populações que durante décadas viveram acima das suas possibilidades e com protecções que lhes tiraram a capacidade de se adaptarem à mudança. Mudar isto só pode e só deve ser feito com o acordo dos cidadãos. Se acreditamos no futuro da Europa temos de acreditar no bom senso dos Europeus. Portugal e a Irlanda foram a votos e as suas populações aprovaram por maioria o caminho da mudança. Espanha fará o mesmo na próxima semana. A Grécia e a Itália terão de o fazer e quanto antes melhor. A liderança hesitante da Sra. Merkel é também o reflexo do seu receio de ir contra a vontade dos alemães.

A Europa unida foi quase sempre construída à revelia dos europeus. Sou um europeísta convicto e acredito que populações esclarecidas tomarão decisões sensatas. Os Europeus merecem ser ouvidos, não só os gregos e os italianos, mas também os alemães.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Política subjugada à realidade

Em tempos recentes tenho visto muitas pessoas a dizer que vêem uma subjugação da política à economia. Decisões que deviam ser tomadas por políticos são tomadas por economistas, ou sob influência destes, para o bem da "economia". E portanto, é preciso quebrar com isto; a situação é insustentável e são preciso políticos a sério.

Não discordo da necessidade de acções políticas para resolver os problemas que vemos na Europa; muito do que tem falhado é exactamente a indecisão dos líderes. Mas nem sempre esta acontece por motivos "económicos". Às vezes é uma consequência da democracia o receio de os líderes agirem de forma mais decidida.

E este discurso esquece-se que muito do que nos trouxe aqui foi muito do contrário. Não foi a subjugação da política à economia que nos trouxe a moeda única, nem muitos dos problemas que Portugal tem. Pelo contrário. Muitos avisaram a tempo que a moeda única poderia não ser aconselhável do ponto de vista económico. Muito avisaram a tempo da insustentabilidade das contas públicas e de outros factos da nossa economia. A criação do euro não foi política económica. Foi só política. Os défices orçamentais insustentáveis não foram política económica, foram só política.

E assim de decisão política em decisão política chegamos à altura em que "a política se subjuga à economia". Acho que esta é a expressão errada. Acho que chegou foi a hora de a política se subjugar à realidade.

PS:
Em Março, um correspondente da The Economist contou uma engraçada história. Mário Soares, alguns anos após a revolução, terá reunido alguns dos maiores economistas nacionais para os ouvir sobre uma possível adesão portuguesa à então CEE. Um a um, todos lhe terão dito que não seria aconselhável que o país se tornasse membro de pleno direito e obrigações. Então, Soares revelou que naquele momento estaria a ser entregue em Bruxelas uma carta com o pedido de adesão de Portugal. Na resposta aos economistas revoltados, Soares terá dito: "Porque quero que todos percebam que isto não foi uma decisão económica. Estamo-nos a juntar à Europa para que este país nunca venha a ser uma ditadura outra vez, de direita ou de esquerda".

domingo, 3 de outubro de 2010

BCE -> Bancos -> Estado: é preciso o intermediário?

Se a taxa de referência do Banco Central Europeu é de 1%, por que razões andará o estado português a financiar-se a 5,973%? Um financiamento da dívida pública com estas taxas de juro tem como consequências: o aumento do défice, a prazo; a diminuição da concessão de crédito a empresas e particulares, pois os bancos preferem financiar o estado, é mais garantido; e, claro, lucros obscenos para a Banca, pagos mais uma vez com os impostos dos portugueses.
Paulo Morais, "A dúvida da dívida", Blasfémias
Paulo Morais (assim como comentadores noutro estaminé) aponta para uma questão particularmente pertinente nesta fase. Com o Estado português a ter de enfrentar taxas de juro crescente, não é criada uma situação injusta quando o BCE empresta a bancos, que por sua vez emprestam ao Estado com margens e sem grande risco? (Há risco, evidentemente, mas para a banca portuguesa, se o Estado colapsar, não há de ser por não deterem dívida pública que ficarão em boa situação de qualquer forma)
É uma boa questão, e que não me parece ter uma resposta muito satisfatória. É injusto. Mas é preciso recordar que uns empréstimos tem o prazo muito curto (aos bancos) e outros têm duração bastante mais longa e portanto são inerentemente mais arriscados (aos estados). A alternativa, em que o BCE está disponível para efectuar empréstimos directos aos Estados abre uma caixa de pandora política; basta abrir a primeira vez para ser difícil fechar nas seguintes. E as consequências serão graves: para além dos problemas políticos intra-comunitários que poderíamos encontrar, veríamos mais irresponsabilidade orçamental, riscos de inflação pelo dinheiro criado o que se traduziria também em taxas de juro mais altas (porque investidores antecipam que a dívida será paga com dinheiro criado) e por fim a perda completa da credibilidade do Banco Central Europeu. De qualquer forma, não me sinto totalmente satisfeito com esta resposta. Com regras bem definidas, até podia funcionar. Mas se as quebrarmos uma vez, quando é que pararemos?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Zona Monetária Óptima

Portugal não deveria ter aderido ao euro. Se calhar, um dos erros foi achar que, numa união monetária, não se poderia dar ao luxo de cometer os erros do costume e que portanto teria mesmo que se endireitar. Mas nem assim.

domingo, 2 de maio de 2010

Oh, a ironia

Ver A Grécia ainda cumprirá o sonho neoliberal no Arrastão (Daniel Oliveira).

Não deixa de ter uma forte carga de ironia o facto de que Daniel Oliveira ilustra um futuro "sonho neoliberal" com uma imagem que resulta e muito das consequências de pensamentos económicos e políticos bem mais próximos do dele do que o referido.

sábado, 17 de abril de 2010

Portugal na CEE

Only a few years after the Carnation Revolution that ended dictatorship and brought democracy to Portugal, Mr Soares summoned two dozen or so of the country's most respected economic experts, to advise him on whether it would be in Portugal's interests to apply to join the then European Economic Community. One by one, the invited sages told him Portugal was too weak an economy to stand the shock of opening its markets to countries like France or Germany. Portugal should seek some form of special associate membership, Mr Soares was told. Full membership would be simply too dangerous.
 As the meeting drew to a close, Mr Soares looked at his watch. "Gentlemen," he announced. "At this very moment a letter applying for EEC membership is being handed over in Brussels." There was uproar. Why had the prime minister invited people to debate the economic merits of this decision, if he had already made up his mind, Mr Soares was asked, angrily. Because I wanted everyone to understand that this was not an economic decision, he replied. We are joining Europe to make sure this country will never be a dictatorship again, of the right or the left.
Charlemagne, The Economist 
Reflexões e histórias de um correspondente da The Economist sobre Portugal, a entrada no Euro e na CEE.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Boa, Sherlock!



Mais um excelente artigo de Pedro Lains no Jornal de Negócios:
"O crescimento não vem de reformas, vem do trabalho, do investimento, da tecnologia e da inovação. Ponham em cima da mesa um caso de crescimento com base em reformas estruturais e, quando virem que não conseguem, chegarão à mesma conclusão que aqui se expõe."
Também eu andava com vontade de desmontar esta ilusão das "reformas estruturais", mas tenho-me inbido por me sentir tão desacompanhado.
João Pinto e Castro, Jugular
Gosto muito de ver a claque a bater palmas sem saber ao quê; basta que alguém dê uma pequena migalha que lhes permita continuar a fazer de conta que não vêem e a apontar as culpas para fora, como se 12 anos nos últimos 15 não fossem suficientes para podermos atribuir culpas a alguém, e é vê-los a todos a fazer altares para cada ídolo que aparece.
É difícil ver a excelência num artigo que fala de conceitos de diferentes tipos e ordens como se estivessem numa oposição directa. É difícil ver excelência no artigo que termina com uma conclusão tão óbvia e tão banal, que nada permite retirar sobre qual é então o caminho proposto pelo autor, ou exactamente em que é que o caminho criticado não é o que permite que o crescimento venha dessa forma. Aguardo uma crónica sobre futebol de Lains em que explique que as vitórias não vêm da táctica, ou das jogadas estudadas, mas sim dos golos. É também difícil perceber como, sendo o euro uma situação excepcional de integração monetária a nível internacional, não seria necessário uma adaptação das economias às novas circunstâncias, nomeadamente através de alguma flexibilização em áreas da economia, com a perda do instrumento de política monetária autónoma. Se calhar esta última parte só é também difícil porque artigos como este apenas se dedicam a apontar falhas (e não muito bem) mas ficam por nos "iluminar" sobre o que poderia ser diferente.
No fundo, o que é "o trabalho, o investimento, a tecnologia e a inovação", de onde vai aparecer ele, quem são senhores das "reformas" que dizem que não é deles que vêm o crescimento? Ao menos daquele lado vê-se uma opinião, um caminho. O que quer Lains? Um diferente, o mesmo? Porque bate palmas a claque?

(Pedro Lains também podia ter sido mais concreto; criticar um adversário vago é tão mais fácil que enfrentar um texto de um autor bem definido; Paul Krugman é um bom exemplo de alguém que quando critica uma posição, nunca foge de apontar exactamente de quem está a falar e de que afirmações.)