domingo, 16 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte I) - Kindle, Línguas

Kindle

Nunca rejeitei a ideia dos e-books. Detesto ler no computador ou num telemóvel, mas sempre imaginei a experiência num leitor de e-books bem desenhado pudesse ser boa. Miguel Góis escreveu em 2003 no blog do Gato Fedorento:
«Cada vez que se fala no e-book, há sempre alguém que diz: “Que horror! Eu não consigo passar sem o cheiro dos livros”. Confesso que sou esquisito: não compro os livros em função do seu cheiro. Assim como não compro perfumes em função da sua estrutura narrativa.»
Eu diria mais ou menos o mesmo. Umas semanas numa viagem em que a mala só levou um livro que não me apetecia ler convenceram-me. E um novo melhor amigo chegou, numa fria manhã de Fevereiro ao centro da Europa, após atravessar um (ou mais) oceano(s). Ficámos inseparáveis, no ano em que mais páginas percorri. E aqui partilho parte daquilo que aprendi com elas.





Línguas

2012 foi para mim ano dos idiomas (escolhi esta palavra só para não escrever a frase «2012 foi para mim o ano das línguas»). O interesse era antigo, ainda que adormecido. Mas se não acordasse agora, nunca mais aconteceria. É o que dá viver numa cidade oficialmente bilingue, mas de facto trilingue, e num país oficialmente trilingue mas tetralingue (?). Subi e desci elevadores em Torres de Babel, tive auscultadores mágicos que traduziam para 22 línguas o que se ouvia. Os transportes públicos, anúncios publicitários e placas da rua eram bilingues. Os colegas de casa vinham de muitos sítios; e até os que eram do próprio país chamavam a atenção pela forma como alternavam sem sobressalto em qual das línguas oficiais conversavam.

No ano passado li Through the Language Glass, de Guy Deutscher, um livro moderadamente interessante que discutia a possibilidade de a língua influenciar a forma como vemos o mundo. Este ano foi The Unfolding Of Language que tão bem me ocupou. O livro fala do aparecimento das línguas, da evolução que elas sofrem ao ponto de se tornarem quase irreconhecíveis. Mas o que mais me atraiu foram os estapafúrdios detalhes de gramática que há por aí: a inacreditável conjugação de verbos no árabe, a ordens das palavras em diferentes línguas, as declinações do latim que algumas línguas herdaram. E o livro faz perdoar as irregularidades que tantas dores de cabeça dão na aprendizagem de línguas: elas são resultados inevitáveis do processo de evolução, de simplificação e reconstrução.


 

Houve quem tentasse escapar a elas, criando línguas fáceis de aprender (Ido, Interlingua), ou que não dessem azo a ambiguidades (Loglan, Lojban), ou que colorissem mundos de ficção (Klingon). Outros tinham objectivos mais utópicos, a crença de que uma língua comum à humanidade permitiria unir os povos e evitar as separações que fomentam conflitos (Esperanto). É o trabalho de esforçados mas anónimos criadores de línguas que Arika Orenta relata em In the Land of Invented Languages. Um livro de rápida leitura (um feriado chegou), muito interessante com personagens loucas atrás de uma utopia irrealizável. David Bellos em Is That a Fish in Your Ear? aborda de forma interessante, mas com pouca direcção, as dificuldades de reproduzir noutra língua tanto significado que um autor pode querer passar num texto.


Mas com tanta exposição às línguas dos outros, acabei por perceber o poder que a minha tem. Obrigado aos Pluto e ao Governo Sombra, na altura por me trazerem a casa; e agora, por me levarem de volta.

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