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sábado, 16 de junho de 2012

Domingo a ferver

Como primeiro post gostava de falar do acontecimento de Domingo que vai marcar a próxima semana e que vai certamente ajudar a definir o futuro próximo de Portugal e da União Europeia.
 Não estou a falar do Portugal-Holanda, que meio Portugal vai acompanhar vidrado na televisão. Estou a falar das eleições de amanhã, na Grécia.

Se as últimas eleições, em Maio, deixaram tudo na mesma, ou seja, sem governo e sem rumo, estas parecem ter o mesmo destino ou, quem sabe, algo pior.
As últimas sondagens, informais, indicavam um empate técnico entre o partido Nova democracia (direita, pro europeu e pro cumprimento do resgate) e o Syriza (esquerda radical e, pro europeu (supostamente) mas a favor de renegociação do plano de regate). Contudo, as sondagens oficiais, em 1 de Junho, data final para publicação de sondagens antes das eleições, davam a vitória ao Syriza ainda com margem substancial. Deixo-vos o link para as sondagens: http://www.publicissue.gr/en/1684/varometro-3rd-wave-may-2012/


http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-18468459

Na minha opinião, se este partido radical de esquerda ganhar certamente teremos na segunda feira novo tropeção nas bolsas e mais do que isso provavelmente a saída da Grécia do euro nos tempos seguintes. Seguir-se-ia depois o efeito dominó a Portugal, Espanha e provavelmente Itália...
Numa onda mais positiva podemos pensar que uma vitória da esquerda possa revolucionar completamente as negociações de resgate e estejamos perante uma mudança de paradigma na Europa (ok, tenho de deixar de sonhar acordado, mas quem sabe...)

Se o Nova democracia ganhar será mais do mesmo mas penso que a Grécia se aguentará, pelo menos mais uns tempos no euro, até alguém em Bruxelas se decidir a tomar as rédeas para resolver esta situação.

Serão os gregos a decidir, mas seguramente nem só o futuro deles está em jogo este Domingo. 

Para não parecer que só vou falar de coisas sérias, deixo-vos também uma sugestão cultural para hoje. Não sei se ainda haverá bilhetes, mas se houver e se puderem não deixem de ir assistir e dançar ao som de Aurélien Claranbaux nas Galerias de Paris (Porto) pelas 22h30m, no âmbito do IV aniversário do grupo Dançaólicos. Se não puderem, todas as 3as pelas 22h00m há uma tertúlia, também nas Galerias de Paris, onde se pode dançar (música folk, principalmente) e divertir para esquecer o stress do dia a dia. É sempre uma oportunidade para conhecer novas pessoas e novos géneros musicais que são menos comuns na rádio.




sexta-feira, 15 de junho de 2012

Europa über alles

Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, o Banco Central da Alemanha, dá hoje uma entrevista ao Público e a 3 outros jornais, de Espanha, Itália e Grécia. A entrevista sintetiza muito bem o ponto de vista das autoridades alemãs nesta crise: os programas de ajustamento hão de funcionar, têm de ser implementados com rapidez e força, e não se pode exigir à Alemanha que assine mais garantias, sem haver que haja maior controlo dos países.

É difícil ler a imprensa portuguesa e não ficar a achar o pior da Alemanha e de Merkel. Mas a verdade é que estes pontos de Weidmann têm o seu quê de razoável. É inegável que os países em dificuldade precisam de reformas; e Weidmann diz que não serão estímulos à construção de infraestruturas que irão resolver o problema destes países, mais ligados à burocracia e a um sistema fiscal ineficiente, diz ele. Não sei se essa generalização pode ser feita a todos os países; pelo menos o nosso teve progresso na era Sócrates no que toca à burocracia. Mas não acho que seja por falta de infraestruturas que o nosso país esteja com problemas. E o nosso problema de competitividade externa é resolvido com uma maior competição interna e abertura ao exterior.

Weidmann insiste também na força que os acordos já feitos têm que ter. E tem também um ponto relevante aqui. Se cada acordo que se assina puder ser posto em causa logo a seguir, então, todos os acordos perdem o seu valor e não tarda não interessa o que se assina. Portanto, quem assina, tem que estar a dar a sua palavra. Quando questionado se a Grécia não deve ser considerado um caso especial, Weidmann diz que o país já foi o que mais apoio recebeu, assim como um grande perdão de dívida. E levanta outro ponto, este que penso que esteja mais esquecido por cá. Ajustar mais suavemente as finanças públicas, como se pretende por cá, pode nem sempre ser tão bom como se pensa. Diz ele que a ajuda financeira funciona como analgésico: compra tempo, mas não resolve os problemas pela raiz. Para além disso, estender as reformas no tempo não deverá aumentar o seu apoio público, tanto nos resgatados como nos países que prestam garantias. De facto, nada garante que um ajustamento ligeiramente mais suave a durar 4 ou 5 anos será mais facilmente suportado (politicamente) que um a durar 2 ou 3. E quanto mais tempo se demorar a ajustar, mais a dívida vai crescendo, atrasando o regresso à sustentabilidade orçamental.

Por fim, a questão do papel da Alemanha nestas garantias. Weidmann diz que a Alemanha não pode avançar para Eurobonds, por exemplo, sem que haja em troca uma maior integração e um maior controlo orçamental dos países (ao nível europeu). E que isso será difícil, vendo por exemplo, a resistência (compreensível) da Espanha à condicionalidade de medidas associadas ao seu resgate.

Esta última questão é particularmente importante, pois por ela passa o desenho da Europa para as próximas décadas. E se as eurobonds ou outras medidas desta natureza são então possíveis, essa mensagem não está a ser bem comunicada por parte dos alemães ao resto da Europa. Não se diga então "eurobonds não", diga-se "eurobonds talvez, mas só se". E assim a Alemanha deixa de ser "o país a dizer sempre não" e assume definitivamente o papel de liderança que de facto tem, no que toca a decidir para onde vai a Europa a seguir. Não fazendo isto, vamos mesmo andar de crise em crise e cimeira em cimeira até um final triste.

Por isso é que a razoabilidade individual de cada uma das ideias principais de Weidman acaba por não disfarçar um desconforto que temos que sentir quando olhamos para a evolução da crise da Europa, e de como um pequeno fogo se alastrou a tantos sítios e chegou agora finalmente a Espanha, como já há muito se antecipava que podia acontecer. Se talvez o problema grego até fosse inevitável, o espanhol não o era. O problema parece ser a cautela, que limita a tomada de medidas convincentes na hora certa. De facto os gregos foram os que já mais apoios receberam e tiveram perdão da dívida. Mas um perdão da dívida mais atempado poderia ter evitado problemas maiores posteriores, que exigem medidas maiores. Os problemas vão continuar como até agora. Porque não basta ter água para apagar o fogo, se ela só chegar quando ele já está a queimar o terreno do vizinho.

P.S.: já a inflexibilidade no que toca à intervenção do Banco Central Europeu, por mais que perceba os receios, parece-me exagerada.

sábado, 26 de maio de 2012

Politicamente (in)correcto

Porque às vezes é preciso levar uma bofetada para sair do estado histérico a que alguns debates nos levam:



“Penso mais nas crianças de uma escola numa pequena aldeia no Níger que têm duas horas de aulas por dia e têm de dividir uma cadeira por três”, comparou Lagarde quando questionada sobre como conseguia não pensar nas mães que não têm acesso a parteiras ou em pacientes que não conseguem obter medicamentos de que precisam para sobreviver. “Tenho-as sempre na minha mente, porque acho que precisam mais de ajuda do que as pessoas em Atenas.”

“Sabe que mais?”, questionou a directora-geral do FMI. “Também penso naquelas pessoas que estão sempre a tentar fugir aos impostos, em todas essas pessoas na Grécia que estão a tentar fugir aos impostos”, prosseguiu Lagarde, acrescentando pensar nesses “da mesma forma” que pensa nos que estão a ser privados de serviços públicos.


Um aplauso a quem foge às respostas redondas. Não há saída fácil para o drama que a Grécia vive. Fugir para a frente não resolverá, só tornará tudo mais difícil.

Espero que tenham juízo, por eles e por nós. E pelas crianças, claro.