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sábado, 29 de dezembro de 2012

O meu 2012 em livros, (Parte VI) - Menções solitárias


Menções solitárias


Metallica: Enter Night. Em casa minha só há um dogma: o da divindade de James Hetfield. O santuário ainda não está construído, mas já tenho várias relíquias para lá pôr. Mick Wall, jornalista que me foi introduzido pela voz de um queixoso Axl Rose em “Get in the Ring”, é o autor. Já devorei mais material sobre esta banda do que é saudável e este livro é claramente o melhor que há. A história é toda contada, com mais info do que alguma vez foi revelado. Acaba também por dar uma visão mais equilibrada a um aspecto polémico da banda: Lars Ulrich em particular, e o resto da banda de forma cúmplice, foram bastante mais calculistas sobre a forma de chegar ao estrelato do que admitem. Acho que antes de ler de que forma isto sucedeu tinha medo de confirmar essa ideia. Mas com o livro lido e as coisas explícitas, vejo que não me importa. Isto é uma questão de fé. Avé Hetfield.

Packing for Mars. Mary Roach escreve um bastante curioso livro sobre as questões mais práticas das viagens ao espaço. Não interessa aqui que tecnologia põe o foguetão lá em cima ou que gases há na atmosfera. Aqui o que importa são as dúvidas sobre a reacção do corpo ao espaço, o que é que astronautas hão de comer, como hão de tratar das suas necessidades fisiológicas. Apesar do meu particular ódio a conversas à volta deste último tema, não resisto a relembrar uma hilariante passagem do livro sobre um “fugitivo” que invade a cabine dos astronautas, e que também é tema nesta entrevista da autora a Jon Stewart.

The Daily Show with Jon StewartMon - Thurs 11p / 10c
Mary Roach
www.thedailyshow.com
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Fim
Este ano teve mais do que isto, mas só estes não me deixaram indiferente. Para o ano, fica a promessa de voltar ao papel para recuperar o atraso que tenho entre aquilo que fui comprando e as boas ofertas que me fazem.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte V) - Política


Política
The Dictator's Handbook, de Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith, é mais um dos excelentes livros que li este ano. Serve para divulgar o trabalho académico destes investigadores, que tentam explicar comportamentos de exercício e manutenção de poder por ditadores, líderes democráticos e até CEOs com um pequeno modelo de aspectos relativamente simples. Basicamente, a ideia é que o que importa é a dimensão de diferentes grupos numa sociedade: aqueles que formam a coligação que sustenta o líder  e aqueles que podem vir a ter influência na mudança. Numa ditadura, em que há um pequeno grupo que forma a coligação vencedora, um líder que queira manter o poder apenas tem que agradar a esse pequeno grupo, bastando para isso distribuir bens por eles e podendo ignorar políticas e a oferta de bens que beneficiem o público em geral, já que este têm pouca influência. Numa democracia essa coligação vencedora já terá de ser maior, pelo que será mais vantajoso ao líder realizar melhores políticas do que tentar subornar cada elemento. Há também jogos de poder entre o líder e a sua coligação de apoio, dado que a capacidade que o primeiro possa ter para substituir elementos do segundo influencia a dimensão do “suborno” e do quanto pode o líder guardar para si. É mesmo um livro bastante interessante, que com um pequeno enquadramento consegue aparentemente explicar muitos fenómenos de diferentes contextos. Semelhante ao Political Economy of Dictatorship, de Ronald Wintrobe, que também é interessante para estudantes de economia interessados em modelizar aspectos de política.

Confidence Men, de Ron Suskind, relata boa parte do primeiro mandato de Obama no contexto da crise financeira. Ignorando as partes mais relacionadas com o que realmente aconteceu em Wall Street, história para a qual a minha paciência já há muito se esgotou, o livro é interessante exactamente porque cumpre o que promete: dar a sensação de estar na sala a assistir às discussões entre o Presidente e os elementos do staff. Vemos um Obama claramente inexperiente, altamente influenciado por elementos ligados à adminsitração Clinton (Larry Summers, Timothy Geithner, Rahm Emanuel), principalmente no que toca a assuntos económicos. Estes elementos limitam o debate, que poderia ser útil para um presidente que aparenta ter demsiadas ideias pré-concebidas sobre economia. Combinando estes aspectos com um bem intencionado mas talvez “ill-timed” foco na reforma do sistema de saúde em pleno colapso da economia e do sistema financeiro, confirma um receio que já se tinha há algum tempo: Obama pode ter muitas qualidades, mas salta para o posto demasiado cedo. Gostava de ter visto o que teria feito uma muito mais experiente Hillary Clinton nas mesmas situações. Go Hillary 2016?

Em ano de eleições nos EUA, Nate Silver foi protagonista após acertar a 100% nos resultados das eleições presidenciais em cada estado. Terá sido boa promoção para o seu livro, The Signal and the Noise, que se dedica a explorar como é que diferentes áreas, desde o baseball até à política, a sismologia e a metereologia, conseguem tratar os dados que têm e isolar o que é realmente importante e o que é “barulho”. O livro é bom; escrito por outro autor seria o suficiente para ficar maravilhado. Mas lê-lo em plena campanha eleitoral, a acompanhar o seu trabalho diariamente e não ler uma palavra sobre os métodos que o próprio utiliza (embora fale de outros) para o trabalho que faz no blog FiveThirtyEight acabou por ser desapontante. Muito bom mesmo assim.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte IV) - Economia Light e semelhantes

Economia light e semelhantes

Há muitos que não lia tão pouco sobre economia por lazer, provavelmente consequência do trabalho que já a bastante me obrigava no campo. Com final do curso, a disrupção da mudança de local e de vida, e a sensação de que pelo menos algum do caminho base no campo já está percorrido, outros tópicos foram mais apelativos. Por isso só terá sobrado paciência para aqueles livros de economia "light". Deu para finalmente admirar Dan Ariely em The Upside of Irrationality, mais um dos livros que traduzem para o público resultados curiosos de investigação académica. Não é que seja particular fã do que normalmente se apelida economia comportamental (ou pelo menos alguma da histeria à sua volta deixa-me céptico), mas o livro é bom. É melhor que Superfreakonomics. E é melhor do que Adapt: Why Success Always Starts with Failure, de Tim Harford, o meu desgosto do ano. 


Harford escreveu talvez o segundo livro de economia que eu li na juventude, "O Economista Disfarçado", que me marcou imenso e influenciou a minha escolha de carreira. Uns anos mais tarde li "A Lógica Oculta da Vida", mais um pequeno livro repleto de ideias interessantes. Num movimento que parece ter sido calculado para o tornar um autor de referência, Harford desta vez fez o contrário: escreveu um livro extenso com uma única ideia. Se calhar fez bem; muitos fazem sucesso assim (Chris Anderson, Malcom Gladwell). E permite-o ficar mais associado a uma ideia específica e dar-lhe maior capacidade de influência, enquanto os livros anteriores eram sínteses de muitas ideias de outros autores. Mas Adapt é longo; e a ideia que defende é tão boa que era desnecessário andar em círculos. Ainda está por acabar; não sei se terei vontade de o fazer. Gladwell, que só este ano tive oportunidade de ler, é que faz isto como quase ninguém. Mas ainda assim, quando um livro só tem uma ideia, ou ela é mesmo boa e os exemplos são mesmo interessantes, ou então não há salvação. É por isso que Outliers, sobre as circunstâncias que levam à excelência, é bom; que The Tipping Point, sobre como pequenos pormenores que influenciam uma cascata de consequências, é razoável, e que Blink, sobre a capacidade de percepção quase inconsciente que têm os especialistas, é aborrecido.


De Michael Lewis, para além de Moneyball, este ano passou-me pelas mãos The Big Short: Inside the Doomsday Machine, sobre a crise; e no ano passado tive "Liar's Poker", sobre os excessos vividos pelo próprio em Wall Street há umas décadas. Não sei se é dos livros, se é de umas crónicas sobre a crise europeia que achei disparatadas; mas sinto-me algo isolado na minha incapacidade de gostar do seu trabalho. Falta-me Boomerang, sobre as suas viagens pela Europa nos tempos de crise.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte III) - Desporto

Desporto

Eu gosto de jogar xadrez. Infelizmente, e como noutras situações, ganho com isso a fama de cromo sem ter o proveito de ser um jogador decente. Mas sei o suficiente para poder desfrutar de livros não técnicos, ou filmes. Endgame, sobre a vida de Bobby Fischer, nem exige tanto. Lido em menos de 24 horas, este livro é tão bem escrito, que foi impossível parar. Mais uma biografia, segue a vida do xadrezista numa ascensão que ilustra muito a teoria das 10,000 horas para a excelência que Malcom Gladwell popularizou em “Outliers” (noutra parte deste texto). Os pormenores e intrigas que Fischer viveu no jogo, em parte verdadeiros, mas em boa parte resultados de uma mente perdida que chega a criar repulsa na fase final da vida, enchem as páginas do retrato de mais um génio insano.




I Am The Secret Footballer, escrito anonimamente por um profissional inglês do campeonato principal que também é colunista no The Guardian, conta como o futebol é visto por quem nele participa dentro de campo. Toca em muitos temas, desde os tempos de formação, as transferências e contratos, os adeptos, o dinheiro, as tácticas. É interessante e está bem escrito; só dispensava as histórias de festa e saídas. The Football Men, de Simon Kuper, é um livro de curtas crónicas; o escritor é bom, mas ou se é familiar com os nomes em causa, ou então boa parte não se aproveita. Já Why England Lose, do mesmo autor e escrito em conjunto com o economista Stefan Szymanski é uma mistura interessante do estilo Freakonomics com futebol. Não conhecendo os detalhes da investigação académica de fundo, o livro utiliza as ferramentas que são familiares para, entre outros temas engraçados, desculpar a Inglaterra das suas "frequentes" derrotas. É também uma tentativa de trazer para o futebol alguma análise estatística como foi feito no baseball, popularizado no relato de Michael Lewis em Moneyball. Apesar de perceber o apelo do livro, não percebendo nada do desporto nem conhecendo as figuras, podia dizer que foi uma perda de tempo, não fosse pelo facto de ter sido introduzido à curiosa peronsagem de Billy Beane, General Manager dos Oakland A's. Mas meio livro foi mais que suficiente para isso.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte II) - Alemanha

Alemanha
Se antes disse que vivi numa cidade de facto trilingue, bem que podia juntar mais uma língua do país à cidade em que vivi também. O alemão é uma das três línguas oficiais da Bélgica. Isto acontece apenas devido a uma pequena região fronteiriça que foi transferida para o país da batata frita após o Tratado de Versailles no final da 1ª Guerra Mundial. Os nazis ainda lhes deitaram a unha na 2ª Guerra, mas não por muito tempo. Mas nas ruas de Bruxelas, e em particular na zona das instituições, ouvir-se falar alemão é frequente. Não deveria ter sido a surpresa que foi para mim. E não era só na rua que eles estavam em maioria, em casa também.

Não sei, mas acredito que todos os povos se auto-analisem de forma massiva. Mas para alguns deve ser mais difícil. Apesar de uma amostra relativamente pequena para um povo tão grande, vi as diferentes partes que já imaginava: a alemã que pensa que os espanhóis são todos uns preguiçosos que queriam uma casa na praia; a assistente parlamentar de uma colega de Merkel que parece não conseguir disfarçar o que sente, mais do que o que pensa, enquanto discutimos eurobonds; o alemão socialista cauteloso com as palavras, de opinião respeitosa e equilibrada, a alemã de esquerda incapaz de disfarçar o incómodo de ouvir o hino nacional e que não é particular fã de ver a bandeira do país espalhada pelas ruas, coisa que se começou a generalizar por alturas de torneios da bola desde 2006. Não sei se é um sentimento de culpa de que se apropria, medo que se abra alguma caixa de Pandora, ou apenas necessidade de garantir distanciamento de elementos que ainda queiram ressuscitar velhos fantasmas. (tema de um artigo recente não muito bem escrito, mas que tem dado de falar, no Der Spiegel)

 

Germany: Unravelling an Enigma não desvendou enigma nenhum. Tem pontos interessantes, e até pode ser um bom guia de como “ser romano em Roma”. Mas fui iludido pelos pequenos passeios históricos da primeira metade do texto. Num registo completamente diferente, Hitler, de Ian Kershaw, é uma obra extraordinária. Em primeiro lugar, pelo tom equilibrado que o autor atinge em 1000 páginas de texto sobre uma figura destas. Quando os factos falam por si, não são precisas muitas palavras para sublinhar o nojo causado. Kershaw descreve toda a vida do ditador, deixando perceber como a criação do mito do líder e o distanciamento em relação aos subordinados, ao mesmo tempo que foi inevitável para assegurar a sua sobrevivência sem demasiadas purgas internas (como fez Estaline), criou também os mecanismos que instigaram os horrores conhecidos, enquanto os seguidores se esforçavam para tornar as suas visões inicialmente hiperbólicas em realidade. A rápida ascensão ao poder de um partido insignificante é também uma história notável, assim como o jogo político que leva às primeiras “vitórias” pré-guerra contra uma Europa ainda demasiado tímida. Essas vitórias levam a uma crença nas próprias capacidades muito para além da realidade; Hitler convence-se da sua infalibilidade, receita certa para o colapso nos anos finais da guerra. Até que, coerente como sempre, “percebe” em Abril de 1945 que o próprio povo alemão fracassou e merece o que lhe está a acontecer. Hitler é uma figura repelente até ao último momento da sua vida; alguém que, por um conjunto de acasos da história conseguiu ultrapassar cada obstáculo que deveria ter sido intransponível; alguém que pesará ainda por muito tempo na consciência colectiva alemã e europeia. É frequente dizermos que essa memória tem de ser preservada, para que não se repita. É preciso então também que não seja desvalorizada com comparações estúpidas entre 1942 e 2012.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O meu 2012, em livros (Parte I) - Kindle, Línguas

Kindle

Nunca rejeitei a ideia dos e-books. Detesto ler no computador ou num telemóvel, mas sempre imaginei a experiência num leitor de e-books bem desenhado pudesse ser boa. Miguel Góis escreveu em 2003 no blog do Gato Fedorento:
«Cada vez que se fala no e-book, há sempre alguém que diz: “Que horror! Eu não consigo passar sem o cheiro dos livros”. Confesso que sou esquisito: não compro os livros em função do seu cheiro. Assim como não compro perfumes em função da sua estrutura narrativa.»
Eu diria mais ou menos o mesmo. Umas semanas numa viagem em que a mala só levou um livro que não me apetecia ler convenceram-me. E um novo melhor amigo chegou, numa fria manhã de Fevereiro ao centro da Europa, após atravessar um (ou mais) oceano(s). Ficámos inseparáveis, no ano em que mais páginas percorri. E aqui partilho parte daquilo que aprendi com elas.





Línguas

2012 foi para mim ano dos idiomas (escolhi esta palavra só para não escrever a frase «2012 foi para mim o ano das línguas»). O interesse era antigo, ainda que adormecido. Mas se não acordasse agora, nunca mais aconteceria. É o que dá viver numa cidade oficialmente bilingue, mas de facto trilingue, e num país oficialmente trilingue mas tetralingue (?). Subi e desci elevadores em Torres de Babel, tive auscultadores mágicos que traduziam para 22 línguas o que se ouvia. Os transportes públicos, anúncios publicitários e placas da rua eram bilingues. Os colegas de casa vinham de muitos sítios; e até os que eram do próprio país chamavam a atenção pela forma como alternavam sem sobressalto em qual das línguas oficiais conversavam.

No ano passado li Through the Language Glass, de Guy Deutscher, um livro moderadamente interessante que discutia a possibilidade de a língua influenciar a forma como vemos o mundo. Este ano foi The Unfolding Of Language que tão bem me ocupou. O livro fala do aparecimento das línguas, da evolução que elas sofrem ao ponto de se tornarem quase irreconhecíveis. Mas o que mais me atraiu foram os estapafúrdios detalhes de gramática que há por aí: a inacreditável conjugação de verbos no árabe, a ordens das palavras em diferentes línguas, as declinações do latim que algumas línguas herdaram. E o livro faz perdoar as irregularidades que tantas dores de cabeça dão na aprendizagem de línguas: elas são resultados inevitáveis do processo de evolução, de simplificação e reconstrução.


 

Houve quem tentasse escapar a elas, criando línguas fáceis de aprender (Ido, Interlingua), ou que não dessem azo a ambiguidades (Loglan, Lojban), ou que colorissem mundos de ficção (Klingon). Outros tinham objectivos mais utópicos, a crença de que uma língua comum à humanidade permitiria unir os povos e evitar as separações que fomentam conflitos (Esperanto). É o trabalho de esforçados mas anónimos criadores de línguas que Arika Orenta relata em In the Land of Invented Languages. Um livro de rápida leitura (um feriado chegou), muito interessante com personagens loucas atrás de uma utopia irrealizável. David Bellos em Is That a Fish in Your Ear? aborda de forma interessante, mas com pouca direcção, as dificuldades de reproduzir noutra língua tanto significado que um autor pode querer passar num texto.


Mas com tanta exposição às línguas dos outros, acabei por perceber o poder que a minha tem. Obrigado aos Pluto e ao Governo Sombra, na altura por me trazerem a casa; e agora, por me levarem de volta.