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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Why Nations Fail


Terminei hoje de ler este livro publicado este ano, sobre as causas do desenvolvimento de alguns países e da incapacidade de outros ultrapassarem a miséria. A teoria avançada por Daron Acemoglu e James A. Robinson assenta exclusivamente na natureza das instituições políticas e económicas das nações. Ao longo de quase 500 páginas, os autores apresentam inúmeros casos históricos de sucesso, de insucesso e de sucessos que acabaram por colapsar, como Veneza na Renascença ou a Argentina já no século XX.

A dicotomia chave a reter desta obra é a de instituições económicas e políticas inclusivas contra instituições extractivas. No caso das primeiras, a maioria da população tem capacidade de se fazer ouvir e há liberdade para desafiar as estruturas económicas e políticas existentes. Assim, há espaço para a inovação e consequentemente para um crescimento sustentável. Os exemplos clássicos são o Reino Unido a partir do final do século XVII e os Estados Unidos desde a sua génese. Do outro lado, temos estruturas extractivas em que uma pequena elite política sobrepõe-se ou pactua com uma elite económica subvertendo a economia para seu exclusivo benefício.

Ambos os tipos de estrutura alimentam ciclos que se auto-alimentam, virtuosos num caso e viciosos no outro. Nos casos de sucesso, um sistema político aberto à população em geral é mais difícil de subverter, a imprensa é um contrapeso permanente às elites instaladas e a dispersão do poder económico torna o controlo do regime menos tentador. No caso das instituições extractivas os incentivos à mudança dificilmente são sentidos pelas elites e os regimes são inerentemente instáveis, como foi o caso da civilização Maia, mas também de muitos regimes africanos.

O crescimento em sociedades extractivas é possível, mas considerado sempre insustentável no tempo. O exemplo mais conhecido é o da União Soviética. Longe de defenderem o paradigma chinês, como está em voga em alguns círculos económicos, os autores defendem que no médio prazo as instituições do império do meio terão de se tornar mais democráticas e competitivas para poderem manter o progresso económico. A saída do ciclo vicioso implica sempre uma abertura do poder a uma coligação abrangente de sectores da sociedade. Por esta razão, dificilmente revoluções orquestradas por pequenos grupos dão lugar a um resultado diferente da substituição de um regime extractivo por um outro de natureza semelhante. Mais uma vez, os vários golpes de estado do continente africano vêm à nossa memória.

Ao articularem a sua teoria, Acemoglu e Robinson rejeitam liminarmente outras explicações para a divergência económica, nomeadamente os factores geográficos e de dotação de recursos naturais ou o nível de conhecimento das elites. Consequentemente, os autores condenam ao fracasso os esforços de ajuda financeira internacional aos países mais pobres. Argumentam, dando o exemplo do Afeganistão, que a esmagadora maioria dos recursos alimentam a burocracia das organizações internacionais e, tragicamente, são canalizados por e para as instituições extractivas que explicam o subdesenvolvimento em primeiro lugar.

Considero a explicação dos autores muito persuasiva, embora não rejeite totalmente o papel de outros factores no desenvolvimento. Acemoglu e Robinson reconhecem o carácter contingencial da história, isto é, das circunstâncias. Penso que a geografia, os recursos naturais ou a formação das elites podem ser decisivos para que os acontecimentos se desenvolvam de forma positiva ou negativa. O aspecto menos positivo do livro é que, na minha opinião, a ânsia de basear a teoria em casos concretos leva os autores a tornar-se algo repetitivos.

Reconhecendo as limitações do modelo proposto, ainda assim recomendo sem quaisquer reservas a leitura deste livro. Não só nos ensina a olhar para o mundo à nossa volta com outra perspectiva, mas também nos dá um sem número de casos históricos e curiosidades. Do nascimento da civilização, ao império romano, à dinastia Ming e aos shoguns japoneses, passando pelas civilizações das Américas e ao papel da peste negra no desenvolvimento da Europa, é um livro que nos enriquece desde as primeiras páginas. Para os curiosos, os autores têm um blogue em que abordam diversos temas históricos e da actualidade à luz da sua teoria do desenvolvimento. Podem encontrá-lo aqui.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Four score and seven years ago

Há 149 anos foi proferido um dos mais famosos discursos da história universal. Em Gettysburg, Pennsylvania, Abraham Lincoln consagrou com menos de 300 palavras o esforço daqueles que perecem na luta por uma causa maior. Em plena Guerra Civil dos Estados Unidos, o grande presidente honrou aqueles que caíram para preservar a união e a liberdade da grande nação americana.

Em menos de cinco minutos Lincoln foi capaz de imortalizar o esforço dos seus compatriotas e de inspirar gerações futuras. Um eterno monumento da retórica politica. Abaixo deixo o pequeno texto, com destaques por mim escolhidos, embora todo o texto mereça a maior das atenções.

"Four score and seven years ago our fathers brought forth on this continent a new nation, conceived in liberty, and dedicated to the proposition that all men are created equal.

Now we are engaged in a great civil war, testing whether that nation, or any nation, so conceived and so dedicated, can long endure. We are met on a great battle-field of that war. We have come to dedicate a portion of that field, as a final resting place for those who here gave their lives that that nation might live. It is altogether fitting and proper that we should do this.

But, in a larger sense, we can not dedicate, we can not consecrate, we can not hallow this ground. The brave men, living and dead, who struggled here, have consecrated it, far above our poor power to add or detract. The world will little note, nor long remember what we say here, but it can never forget what they did here. It is for us the living, rather, to be dedicated here to the unfinished work which they who fought here have thus far so nobly advanced. It is rather for us to be here dedicated to the great task remaining before us—that from these honored dead we take increased devotion to that cause for which they gave the last full measure of devotion—that we here highly resolve that these dead shall not have died in vain—that this nation, under God, shall have a new birth of freedom—and that government of the people, by the people, for the people, shall not perish from the earth."

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

1812

File:Napoleon Moscow Fire.JPG

Geralmente dedico os meus textos à actualidade. Influenciado em grande medida pelo último livro que li (Napoleon's Wars: An International History, 1803-1815), vou entrar na máquina do tempo e reflectir brevemente sobre o que se passava nesta Terra há 200 anos. 1812 foi um ano especialmente rico em acontecimentos históricos, nomeadamente na Europa, com implicações que ainda hoje se sentem na geopolítica e na cultura, por exemplo. 

Na Europa vivia-se o auge das guerras napoleónicas. Depois de ter repetidamente violado os termos do seu acordo com o Czar Alexandre I, com quem dividira a Europa em duas esferas de influência, Napoleão Bonaparte e a sua grande armée, penetravam em território russo. É defensável afirmar que foi este o princípio do fim do Imperador dos franceses. Com fugas e evasões sucessivas, os russos atraíram as legiões de Napoleão cada vez mais para o interior do seu território. Já em pleno Setembro e após uma sangrenta batalha em Borodino, Napoleão teve a sua vitória pírrica, com a ocupação de uma Moscovo em chamas pelas mãos dos próprios russos.

Com o seu exército dizimado e sem mantimentos Napoleão encetou a retirada dos franceses. O que restava da grande armée  foi quase totalmente destroçada pelo frio, pela fome e pelos cossacos russos em perseguição. Ao mesmo tempo, a coligação anglo-portuguesa comandada por Wellington libertava Madrid e prosseguia a expulsão dos franceses da Península Ibérica, ameaçando o sudoeste de França.

A mesma teimosia que conduziu Napoleão à Rússia impediu-o, nos meses seguintes, de aceitar propostas de paz que lhe confirmavam apenas partes do império que conquistara. Assim, um ano e meio depois da invasão da Rússia, o próprio Czar encabeçou a coligação que ocupou Paris e forçou o Corso a abdicar. 1812 foi, pois, o ano em que a conturbada fase das guerras napoleónicas se encaminhou inexoravelmente para o fim e em que a Rússia, e em certa medida a Prússia, assumiu o seu papel como grande potência europeia.

A invasão e destruição de muito do território russo teve um forte impacto na psique do seu povo, a começar pelo seu líder. A memória daquela a que chamaram a Guerra Patriótica suscitou a criação de uma vasta obra cultural, desde a pintura à literatura, passando pela música, que ainda hoje estão entre os maiores tesouros da civilização russa e, podemos bem dizê-lo, da humanidade. Destaco dois exemplos: a Guerra e Paz de Tolstoi e a Abertura Solene Para o Ano 1812 de Tchaikovsky, cuja reprodução de Karajan e a Orquestra Filarmónica de Berlim aqui deixo:


(Nem de propósito, o Da Rússia refere que este fim-de-semana serão transladados os restos mortais dos portugueses que integravam a grande armée na invasão de 1812)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

The Rise and Fall of Communism


Neste fantástico livro Archie Brown explora a história do Comunismo, as razões pelas quais inspirou regimes numa parte significativa do mundo durante o século XX e, não menos importante, por que razões é hoje uma ideologia ultrapassada e condenada aos livros de história. Num louvável equilíbrio entre detalhe e fluidez, The Rise and Fall of Communism expõe as diferenças nos variados países do chamado Segundo Mundo, demonstrando como a semente do fim do Comunismo está nas próprias fundações sobre as quais se constrói. Ainda que baseado em ideais humanistas e bem intencionados, nenhum destes regimes foi jamais capaz de dar às suas populações mais justiça e bem-estar do que as imperfeitas democracias multipartidárias, assentes na premissa da liberdade individual, nomeadamente a de propriedade e a de iniciativa económica.
Aqueles (cada vez menos) que ainda defendem esta ideologia defendem-se dizendo que o verdadeiro comunismo nunca foi praticado. Nem será, pois assenta em premissas erradas sobre a natureza humana e sobre uma falácia lógica demonstrada por Hayek. O vil mercado é o único mecanismo capaz de traduzir ou externalizar o conhecimento tácito de cada um dos indivíduos. Nenhum planeador central nem nenhuma sociedade num estado de total partilha social, ainda que munida dos mais potentes computadores, poderão ultrapassar esta evidência.
Este blog tem no liberalismo o seu ponto de partida, como o seu nome atesta. Por este motivo não posso deixar de recomendar o livro, estando certo de ser acompanhado pelo meu camarada bloguista, a todos aqueles que querem perceber melhor uma parte significativa da história recente e, sobretudo, perceber a asneira que é sacrificar o bom possível em prol de utopias inatingíveis.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Oops! (nº x)

Lenin was able to re-enter Russia [after the February 1917 Russian Revolution] courtersy only of the German authorities who were delighted to facilitate the return from Switzerland of someone who would cause trouble in the enemy camp [in World War I] and who was opposed to Russian participation in the war.

Cá se fazem, cá se pagam.

PS:
More members of the Politburo of the German Communist Party were killed in the Soviet Union at Stalin's behest than in Germany on the orders of Hitler.

The Rise & Fall of Communism, Archie Brown

sábado, 2 de outubro de 2010

Amazing

Germany will make its last reparations payment for World War I on Oct. 3, settling its outstanding debt from the 1919 Versailles Treaty and quietly closing the final chapter of the conflict that shaped the 20th century.
"Germany Closes Book on World War I With Final Reparations Payment", Spiegel Online

Só 90 anos depois, após hiperinflação, nazis, guerra e devastação, divisão, muro, queda do muro e reunificação, é que a Alemanha acaba de pagar o Tratado de Versalhes. Um erro que a história provou ser muito caro.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Não foi assim há tanto tempo

Marca-se hoje mais um aniversário (o septuagésimo-primeiro) do início da Segunda Guerra Mundial. A 1 de Setembro de 1939 a Alemanha Nazi invadiu a Polónia, precipitando a declaração de guerra da Inglaterra (e o seu império) e da França.
Parece-me oportuno pensar um pouco neste conflito que foi simultaneamente o mais violento da história europeia mas também o último em grande escala. Desde 1945 que não se vive no velho continente uma grande guerra, um período de paz inédito na história milenar europeia. Para isto foi fundamental a criação da então Comunidade Europeia do Carvão e do Aço que evoluiu para um fórum capaz de debater e arbitrar os conflitos de interesse entre os estados europeus e que criou um mercado suficientemente forte para que seja mais vantajoso para os países cooperarem do que se agredirem na busca do interesse próprio.
A perda de soberania que este projecto exigiu (não obstante possíveis exageros mais recentes) seria impensável se não tivesse havido uma total destruição do território europeu que criou nas populações um anti-belicismo que ainda hoje se faz sentir. Talvez fosse inevitável um conflito tão sangrento para terminar com as ambições imperialistas dos estados europeus e os virar para a cooperação.
Mas não esquecemos as dezenas de milhões de mortos e as centenas de milhões de vidas para sempre arruinadas. Nem esquecer os muito mais que foram perdendo a vida ao longo da muito rica história do nosso continente. Quantas guerras não houve entre Portugal e Espanha, França e Inglaterra, Cristãos e Otomanos, Suecos e Russos. Vivemos hoje uma paz e prosperidade impensáveis há 71 anos, não foi assim há tanto tempo.

sábado, 7 de agosto de 2010

The Storm of War

Há uns dias terminei a leitura deste fantástico livro, sobre a Segunda Guerra Mundial. Ao longo das páginas, Andrew Roberts, sumariza de forma impecável toda a história deste conflito, pontuando uma análise minuciosa dos factos com alguns relatos de histórias pessoais, dando um toque humano a um conflito que devastou a vida de centenas de milhões.
Mas o ponto forte desta obra é, sem dúvida, a sua leitura ideológica do animus da máquina de guerra nazi, a forma como condicionou todas as suas decisões, a começar pela opção pela guerra e como tornou inevitável a sua derrota. A sobreposição da vontade de exterminar as raças inferiores aos objectivos militares e o culto de um líder sempre certo que impediu a livre discussão de opções tácticas e estratégicas condenaram os nazis. A tese de Andrew Roberts é simples: os alemães perderam a guerra pela mesma razão que a começaram, ou seja, por serem nazis.
Para os leigos, como eu, que quiserem saber mais e perceber melhor o mais bárbaro conflito da história da humanidade (que não foi assim há tanto tempo), esta é uma escolha acertada.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um dos grandes da História

Acabei recentemente de ler uma obra fantástica, Team of Rivals. Trata-se de uma biografia muito bem escrita do presidente americano Abraham Lincoln, escrita por Doris Kearns Goodwin. O livro centra a sua análise no génio político de Lincoln e na forma como com a sua sagacidade e carisma conseguiu juntar um executivo constituído pelos seus maiores rivais.
Ao longo de várias centenas de páginas emerge um homem que vindo do nada, nascido numa cabana em pleno Oeste, se tornou num dos mais admiráveis líderes da História. Pouco crente numa vida após a morte, Lincoln foi movido por uma grande vontade de ser recordado pelos seus pares como alguém que fez a diferença, para si a única forma de vencer a morte.
Um auto-didacta sem educação formal Lincoln rompeu vezes sem conta o desprezo que a elite política de Washington nutria por si. Enquanto acompanhamos as terríveis decisões que Lincoln teve de tomar para vencer a Guerra Civil, também vamos conhecendo a sua vida pessoal e é difícil conter as lágrimas em algumas passagens, como a morte do seu filho mais novo ,Willie,ou o seu brutal assassinato no final da Guerra. Juntou à sua volta os seus maiores críticos e a sua morte foi genuinamente chorada por eles.
Lincoln garantiu a união do seu país e erradicou o flagelo da escravatura. Provavelmente nem ele imaginaria que o seu desejo de ser recordado pelos outros seria tão perfeitamente alcançado. Recomendo a todos a leitura. É uma lição de história, de liderança e de humanidade. Histórias como as de Abraham Lincoln renovam a crença na Humanidade e na sua capacidade de fazer sacrifícios por valores maiores, como a Igualdade e a Liberdade.