Mostrar mensagens com a etiqueta Saúde. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Saúde. Mostrar todas as mensagens

sábado, 30 de junho de 2012

Obamacare

A protest in front of the Supreme Court is shown. | AP Photo

Esta semana o Supremo Tribunal dos Estados Unidos aprovou, por escassa margem, a lei de saúde do presidente Obama, também conhecida como Obamacare. Trata-se de uma peça legislativa complexa e que toca num vasto conjunto de aspectos do sistema de saúde americano. Com a entrada em vigor desta lei, dezenas de milhões de cidadãos passarão a ter, pela primeira vez, acesso a cuidados de saúde. No entanto, o pomo da discórdia, que poderia ter feito a lei receber o chumbo do mais alto tribunal, era a obrigação de todos os indivíduos comprarem um seguro de saúde, sob pena de serem multados.

A direita americana fez desta lei o seu principal alvo, considerando-a um abuso do poder federal sobre os estados e sobre os indivíduos. A contestação foi um dos principais factores a alimentar a estrondosa vitória dos Republicanos nas eleições para a Câmara dos Representantes em 2010. No final das contas, foi um juiz conservador, o juiz-presidente John Roberts, quem liderou a maioria 5-4 que considerou a lei constitucional, contra todas as expectativas.

A obrigação de contratação de um seguro de saúde é essencial para a viabilidade da lei. A única forma viável de pessoas que à partida não são saudáveis serem cobertas por um seguro de saúde é os milhões de pessoas saudáveis que não tinham seguro passarem a tê-lo, baixando os custos médios por segurado. Os cidadãos mais saudáveis estarão, pois, a subsidiar os restantes. No caso dos pobres haverá comparticipação total ou parcial dos seguros, a somar aos programas já existentes de apoio aos mais carenciados. Paralelamente, serão criadas bolsas de seguro, cujo objectivo é criar um mercado mais líquido baixando os custos.

É, pois, uma abordagem bastante diferente da que temos, por exemplo, em Portugal. Em vez de optarem pela criação de um serviço público de saúde, decidiram-se por uma solução de mercado em que o Estado não é responsável primário pela prestação de cuidados de saúde. A lei tem alguns incentivos à redução de custos mas todas as análises indicam que o problema do custo exagerado da saúde nos Estados Unidos ainda não encontrou solução. Pesado e dispendioso como o nosso SNS é, a verdade é que a solução de mercado, no modelo americano, está longe de ser uma resposta eficiente. Os EUA são o país que mais gasta em saúde, em percentagem do produto.

Enquanto liberal não estou à partida confortável com a obrigatoriedade de aquisição de um bem ou produto.   É verdade que somos obrigados a adquirir um seguro caso tenhamos um carro, mas aí trata-se de uma consequência da decisão livre de possuir um automóvel. Aqui não há essa pré-condição. No entanto, dada a obrigação do Estado em acudir aos doentes em caso de emergência, é defensável que as autoridades procurem minimizar esse custo, alargando os cuidados preventivos. Alternativamente, não contesto o direito do Estado em taxar os cidadãos (embora me revolte o peso da carga fiscal, principalmente face ao retorno gerado em serviços). Assim, podemos considerar este seguro obrigatório como um imposto, alternativamente aos impostos convencionais que poderiam financiar um serviço público de saúde. A decisão de John Roberts apoiou-se precisamente neste argumento, no poder das autoridades federais para taxarem os cidadãos.

Provavelmente esta lei ainda terá de ser revista em vários aspectos e o sistema de saúde americano continua longe de ser sustentável. Não obstante ser uma solução cheia de defeitos, o meu balanço é francamente positivo. A exclusão de dezenas de milhões do sistema de saúde era uma vergonha para um país com a prosperidade dos EUA. A oposição republicana nunca apresentou uma alternativa credível, o que dada a gravidade do problema é uma vergonha indefensável.

Politicamente, Barack Obama teve uma grande vitória. A reforma da saúde foi o seu maior combate político no primeiro mandato, tendo gasto todo o seu capital político num processo pouco dignificante no Congresso. Poderá agora apresentar-se às eleições de 6 de Novembro com uma reforma histórica e que vários presidentes (e primeiras-damas no caso do casal Clinton) tentaram alcançar sem sucesso. Será este um dos grandes temas em cima da mesa. A maioria da população é contra a lei, mas uma boa parte dos que são contra acham-na demasiado tímida. Por isso está longe de ser líquido que seja um peso às costas do actual presidente. Mas poderá ser um balão de oxigénio para o Tea Party, que foi decisivo na humilhação dos democratas em 2010. Seguramente, a reforma da saúde é mais um eixo da forte bipolarização da arena política norte-americana.

Acredito, porém, que o factor decisivo na escolha dos americanos será a economia. E aí Obama terá de os convencer que não negligenciou a economia em prol da saúde e de outras prioridades. Acima de tudo, Obama dependerá da capacidade dos europeus para evitar um colapso da sua economia, que inevitavelmente afundaria a tímida recuperação que se vive do outro lado do Atlântico.

domingo, 3 de outubro de 2010

A market for kidneys

As of March 2010, in the US, there were 86,158 people waiting for a kidney transplant; but between 2005 and 2007, an average of only 17,670 transplants were performed and many people died waiting. Many have proposed that a legal market for kidneys from live donors could solve this problem. For the most part, objections come from a sense of discomfort and “repugnance”, because such trade “commodifies” the body and will lead to an unfair system, in which rich people can take advantage of the poor, particularly in underdeveloped countries.

However, many do not see a problem with these transactions as long as they are voluntary: they will increase the lifespan and improve the quality of life of kidney receivers at little health cost for the donors and their exact motivation is not very important. They also point that the current system is not much fairer, since most people have an extra kidney, while there are people in need of one. Increasing the number of deceased donors would appease both sides, but would not be enough to meet all the demand, because only a small part of them would have healthy organs. Also, evidence suggests that patient and graft survival are higher with living-donor transplants, which implies that there would still be willingness to pay for these organs.

A radical change from the current situation to liberalization is highly unlikely and that makes it more interesting to study middle-of-the-road options. The usual prescription to increase supply in a market is raise monetary incentives; but since these are the matter of contention, other forms of compensation have been proposed, such as contribution by the government to the living donor’s estate upon his death or in forms other than cash: tax credits, health insurance or future priority in organ waiting lists. These seem like sensible compromises that also help reduce the repugnancy effect. There has also been some focus on the exchange of kidneys between patients who have an incompatible donor; if several people are in this situation, they can create a chain of transplants with strangers. The development of a mechanism like this in larger scale can improve the outcomes quickly without changing laws.

Again, just as with the economic value of life, human instincts play a big role in this discussion, but the argument of repugnancy sounds too weak and vague to be used to restrict what two people can do voluntarily, especially if one of them is trying to save its own life. It has also been pointed that a paid voluntary organ donor system has similar characteristics to a paid volunteer army system and most people do not object to that. I would also add the example of abortion, which is legal in many western countries. It seems odd that most people agree that a woman should have the right to choose what to do with their bodies regarding fetuses, but not organs. Despite the discomfort that the idea causes, I cannot avoid the feeling of having left a free lunch on the table and I am sure that those afflicted by kidney diseases agree.

PS: Post nº 100

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Statistical life and human nature

“Economic analysis has found a way to overcome the ethical issue of giving value to a life; It adopted the concept of value of a statistical life. Instead of evaluating the life of a specific person, one evaluates in an abstract way, the value of saving one life in the population (without knowing which life)” . This method intends to install some needed rationality in an important debate about the optimal use of resources to save lives. Every life should be priceless; but we can’t save all and choices about the use of resources must be made.
Studies pinpoint the economic value of a statistical life to be in the range between 2 and 10 million USD. Basically, it means that a policy, or innovation, that can save a life for that amount, or less, should be pursued and another that cannot should be discarded. Despite the fact that this looks like a pretty good clear cut way to analyze a sensitive subject, there are still some issues.

The key word here is “abstract”; the concept of statistical life implies anonymity. And that difference in perception shows an interesting characteristic of human nature. A government initiative to save an unknown life (as an example, to improve security in mines) may not pass the cost-benefit analysis; however, if later we find someone in a situation of necessity (as the miners in Chile), the concept of statistical life becomes meaningless and there’s little debate about the resources being spent to save them. We already knew and felt that we value a life of one of our family much more than an anonymous life. But we also give much more value to a specific life, a name and a face, than to a statistical life. In fact, we believe the distance is much greater between these two than it is between the specific stranger and the family member. But should there be a difference in what we are willing to spend to save a specific person and an unknown?

Even ignoring for family members, a life is a life; saving a life shouldn’t be worth more if by chance we happen to know what the name of that person is. Even with the concept of statistical life, created to push towards rationalization in the use of resources, human nature will still be (thankfully) blocking the road towards ruthless efficiency. Knowing this, we can clearly understand that the concept of statistical life ends up being a diversion, a way to escape ourselves, so we can concentrate rationally on solving these issues, while at the same time recognize the impossibility that is to give a value on a specific person. It sure is interesting to see humans put up a good fight against a part of their nature and instincts.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Libertas

O Governo aprovou hoje o fim das restrições ao horário de funcionamento das farmácias, que poderão estar abertas 24h, em todos os dias da semana, caso os seus responsáveis assim o entendam. Juntamente com o fim da insensata proibição de funcionamento dos hipermercados ao domingo, esta medida representa um passo positivo para a liberalização de um sector de serviços em que os consumidores só saem a ganhar.
Ainda assim estamos perante um sector claramente marcado por proteccionismos diversos, distorções à concorrência e interesses instalados que só existem por duas razões: a gigantesca dívida do Estado ao sector e a demagogia que os farmacêuticos apregoam sempre que se tenta mudar alguma coisa, agitando a bandeira dos perigos para a saúde dos utentes caso aumente o número de postos de venda de medicamentos.

(É verdade eu também consigo falar bem de medidas do governo do Eng. José Sócrates)