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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

1812

File:Napoleon Moscow Fire.JPG

Geralmente dedico os meus textos à actualidade. Influenciado em grande medida pelo último livro que li (Napoleon's Wars: An International History, 1803-1815), vou entrar na máquina do tempo e reflectir brevemente sobre o que se passava nesta Terra há 200 anos. 1812 foi um ano especialmente rico em acontecimentos históricos, nomeadamente na Europa, com implicações que ainda hoje se sentem na geopolítica e na cultura, por exemplo. 

Na Europa vivia-se o auge das guerras napoleónicas. Depois de ter repetidamente violado os termos do seu acordo com o Czar Alexandre I, com quem dividira a Europa em duas esferas de influência, Napoleão Bonaparte e a sua grande armée, penetravam em território russo. É defensável afirmar que foi este o princípio do fim do Imperador dos franceses. Com fugas e evasões sucessivas, os russos atraíram as legiões de Napoleão cada vez mais para o interior do seu território. Já em pleno Setembro e após uma sangrenta batalha em Borodino, Napoleão teve a sua vitória pírrica, com a ocupação de uma Moscovo em chamas pelas mãos dos próprios russos.

Com o seu exército dizimado e sem mantimentos Napoleão encetou a retirada dos franceses. O que restava da grande armée  foi quase totalmente destroçada pelo frio, pela fome e pelos cossacos russos em perseguição. Ao mesmo tempo, a coligação anglo-portuguesa comandada por Wellington libertava Madrid e prosseguia a expulsão dos franceses da Península Ibérica, ameaçando o sudoeste de França.

A mesma teimosia que conduziu Napoleão à Rússia impediu-o, nos meses seguintes, de aceitar propostas de paz que lhe confirmavam apenas partes do império que conquistara. Assim, um ano e meio depois da invasão da Rússia, o próprio Czar encabeçou a coligação que ocupou Paris e forçou o Corso a abdicar. 1812 foi, pois, o ano em que a conturbada fase das guerras napoleónicas se encaminhou inexoravelmente para o fim e em que a Rússia, e em certa medida a Prússia, assumiu o seu papel como grande potência europeia.

A invasão e destruição de muito do território russo teve um forte impacto na psique do seu povo, a começar pelo seu líder. A memória daquela a que chamaram a Guerra Patriótica suscitou a criação de uma vasta obra cultural, desde a pintura à literatura, passando pela música, que ainda hoje estão entre os maiores tesouros da civilização russa e, podemos bem dizê-lo, da humanidade. Destaco dois exemplos: a Guerra e Paz de Tolstoi e a Abertura Solene Para o Ano 1812 de Tchaikovsky, cuja reprodução de Karajan e a Orquestra Filarmónica de Berlim aqui deixo:


(Nem de propósito, o Da Rússia refere que este fim-de-semana serão transladados os restos mortais dos portugueses que integravam a grande armée na invasão de 1812)