Em tempos recentes tenho visto muitas pessoas a dizer que vêem uma subjugação da política à economia. Decisões que deviam ser tomadas por políticos são tomadas por economistas, ou sob influência destes, para o bem da "economia". E portanto, é preciso quebrar com isto; a situação é insustentável e são preciso políticos a sério.
Não discordo da necessidade de acções políticas para resolver os problemas que vemos na Europa; muito do que tem falhado é exactamente a indecisão dos líderes. Mas nem sempre esta acontece por motivos "económicos". Às vezes é uma consequência da democracia o receio de os líderes agirem de forma mais decidida.
E este discurso esquece-se que muito do que nos trouxe aqui foi muito do contrário. Não foi a subjugação da política à economia que nos trouxe a moeda única, nem muitos dos problemas que Portugal tem. Pelo contrário. Muitos avisaram a tempo que a moeda única poderia não ser aconselhável do ponto de vista económico. Muito avisaram a tempo da insustentabilidade das contas públicas e de outros factos da nossa economia. A criação do euro não foi política económica. Foi só política. Os défices orçamentais insustentáveis não foram política económica, foram só política.
E assim de decisão política em decisão política chegamos à altura em que "a política se subjuga à economia". Acho que esta é a expressão errada. Acho que chegou foi a hora de a política se subjugar à realidade.
PS:
Em Março, um correspondente da The Economist contou uma engraçada história. Mário Soares, alguns anos após a revolução, terá reunido alguns dos maiores economistas nacionais para os ouvir sobre uma possível adesão portuguesa à então CEE. Um a um, todos lhe terão dito que não seria aconselhável que o país se tornasse membro de pleno direito e obrigações. Então, Soares revelou que naquele momento estaria a ser entregue em Bruxelas uma carta com o pedido de adesão de Portugal. Na resposta aos economistas revoltados, Soares terá dito: "Porque quero que todos percebam que isto não foi uma decisão económica. Estamo-nos a juntar à Europa para que este país nunca venha a ser uma ditadura outra vez, de direita ou de esquerda".
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