domingo, 3 de outubro de 2010

BCE -> Bancos -> Estado: é preciso o intermediário?

Se a taxa de referência do Banco Central Europeu é de 1%, por que razões andará o estado português a financiar-se a 5,973%? Um financiamento da dívida pública com estas taxas de juro tem como consequências: o aumento do défice, a prazo; a diminuição da concessão de crédito a empresas e particulares, pois os bancos preferem financiar o estado, é mais garantido; e, claro, lucros obscenos para a Banca, pagos mais uma vez com os impostos dos portugueses.
Paulo Morais, "A dúvida da dívida", Blasfémias
Paulo Morais (assim como comentadores noutro estaminé) aponta para uma questão particularmente pertinente nesta fase. Com o Estado português a ter de enfrentar taxas de juro crescente, não é criada uma situação injusta quando o BCE empresta a bancos, que por sua vez emprestam ao Estado com margens e sem grande risco? (Há risco, evidentemente, mas para a banca portuguesa, se o Estado colapsar, não há de ser por não deterem dívida pública que ficarão em boa situação de qualquer forma)
É uma boa questão, e que não me parece ter uma resposta muito satisfatória. É injusto. Mas é preciso recordar que uns empréstimos tem o prazo muito curto (aos bancos) e outros têm duração bastante mais longa e portanto são inerentemente mais arriscados (aos estados). A alternativa, em que o BCE está disponível para efectuar empréstimos directos aos Estados abre uma caixa de pandora política; basta abrir a primeira vez para ser difícil fechar nas seguintes. E as consequências serão graves: para além dos problemas políticos intra-comunitários que poderíamos encontrar, veríamos mais irresponsabilidade orçamental, riscos de inflação pelo dinheiro criado o que se traduziria também em taxas de juro mais altas (porque investidores antecipam que a dívida será paga com dinheiro criado) e por fim a perda completa da credibilidade do Banco Central Europeu. De qualquer forma, não me sinto totalmente satisfeito com esta resposta. Com regras bem definidas, até podia funcionar. Mas se as quebrarmos uma vez, quando é que pararemos?

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