quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Verdade é sempre verdade


Queria fazer uma pequena reflexão sobre um artigo que levantou alguma polémica nos últimos tempos. Trata-se de um comentário feito por Gina Rinehart, a mulher mais rica do mundo. Basicamente ela apela a que as pessoas que querem enriquecer, ter uma vida melhor, se preocupem mais em trabalhar do que em outras actividades menos produtivas. Desde logo muitos puritanos, defensores dos direitos das pessoas e dos trabalhadores, uniram-se no ataque à senhora. O próprio jornalista que escreveu a notícia denota claramente um tom crítico na forma como aborda a notícia. 

Eu não vejo nas declarações dela qualquer mau julgamento, qualquer erro de lógica que possa ser criticável. A única coisa de que pode ser acusada é de não ter "moral" para falar em trabalho já que herdou da família a sua fortuna. Mas o problema está que nada disso torna as afirmações menos válidas, menos verdadeiras. 

Não é concebível uma sociedade onde as pessoas esperem que as coisas aconteçam, que não queiram se esforçar ou que achem que já trabalham o suficiente. Quando se quer algo luta-se por isso, dá-se o máximo. Se se quer melhorar de vida trabalha-se mais horas, não é um custo é um investimento no futuro. E este pensamento parece que se está a perder com cada vez mais conversas de "vitimização" e de demagogia em volta dos direitos das pessoas, onde radicalismos se sobrepõe ao bom senso e direito à liberdade de expressão. Sim, porque a forma como Gina é criticada não passa de uma acção persecutória e caça às bruxas: é rica, é poderosa e  faz parte da conspiração contra os pobres e oprimidos.
Não vejo onde possam ser lógicas estas afirmações quando o investimento é um dos mais poderosos meios de criação de emprego, de riqueza. Quando o salário mínimo pode limitar seriamente a criação de emprego, ou quando a redução de impostos pode ser vista como forma de aumentar o rendimento disponível das famílias e ao mesmo tempo uma forma de captar poupança para ser posteriormente investida, criando um circulo virtuoso de crescimento económico.

Apenas vejo nestas críticas uma forma demagógica e radical de captar o agrado de parte da população que não percebe que nenhuma destas afirmações são, em si, um qualquer discurso de alguém louco. Mas sim propostas que indicam políticas as quais, vistas no seu conjunto e sendo obviamente bem aplicadas, podem fazer parte de qualquer de crescimento económico de um país. Entristece-me que haja quem se aproveite de afirmações destas para ganhar popularidade e votos. Ou, simplesmente, poder tentar ganhar a credibilidade para as suas ideias que há muito deixaram de ser vistas como sérias alternativas, escudando-se em ataques como este que não passam de meras histórias próprias de uma silly season nos seus últimos dias.

1 comentário:

  1. Em primeiro lugar deixem-me dizer que concordo com grande parte deste texto, contudo este comentário da senhora em conjunto com este texto fez-me reflectir profundamente sobre o assunto.
    Eu concordo quando é referido que as pessoas se aproveitam desta afirmação para lançarem argumentos falaciosos ad hominem devido ao facto da senhora ter herdado a fortuna.
    O facto de algo ser verdade e de alguém afirmar que esse algo é verdade não é uma razão lógica suficiente para a justificação da veracidade (i.e. Se Deus realmente existir, dizer que ele existe apenas não é uma razão suficiente para justificar que de facto ele existe). Em nenhum dos vários artigos que li sobre as afirmações da senhora não são apresentadas razões lógicas que fundamentem que a ideia por ela apresentada se assume como verdadeira. Preciso então de procurar outras fontes de informação para analisar a veracidade do argumento.
    Se me guiar pelo senso comum a afirmação é verdadeira, pois é essa a primeira impressão que qualquer um tem quando a analisa, mas será realmente verdade?
    A. "Se gastar menos dinheiro a fumar ou a beber ficarei com mais dinheiro" - No curto prazo sim pelos simples facto que não o gastei mas no longo prazo depende (para a manutenção de certos níveis de produtividade é necessário que o ser humano efectue certas pausas para dormir, comer socializar ou se divertir - admitindo que existe eficiência máxima no uso do dinheiro nessas actividades ou que os custos de informação superem os eventuais benefícios então a afirmação não é verdade no longo prazo).
    B."Se usar o meu tempo para actividades mais produtivas ficarei com mais dinheiro" - certamente criarei mais valor para a sociedade, ceteris paribus, mas será que estarei a aumentar o dinheiro que recebo? Ou outra questão que poderemos colocar é será que essas actividades mais produtivas e mais remuneradas estão disponíveis?
    Podemos ainda ter dificuldades de sistema como por exemplo um número máximo de horas de trabalho. Outra coisa que pode acontecer é: pressupondo que todas as pessoas trabalham mais uma hora, ceterir paribus, existirão pessoas que continuarão a receber o salário mínimo (se este estiver acima de um determinado valor) e que portanto não tenham um aumento do rendimento, i.e. o aumento das horas de trabalho foi absorvido pelo facto de existir um salário mínimo em vez de um mercado de trabalho sem o mesmo.
    Existirá de facto, algum estudo que fundamente a afirmação da senhora?
    Eu não quero definir aqui padrões de exigência para aceitação de algo como verdadeiro, aliás eu acho que a afirmação é verdade, no entanto vejo coisas que podem ser criticáveis (ao contrário do que o que refere o artigo deste blog).
    Outra coisa que não concordo nesta entrada é "Não é concebível uma sociedade onde as pessoas (...) achem que já trabalham o suficiente." É perfeitamente concebível, tudo depende da quantidade de trabalho que máximiza o bem estar de cada um.
    Voltando ainda às afirmações da senhora e um pouco off-topic: mesmo admitindo que as afirmações são verdadeiras, tal não implica que o sistema seja justo e.g. se correres mais depressa levas menos chicotadas. Acredito que algumas das críticas foram feitas com base neste argumento e que portanto teriam de ser analisadas noutro prisma.
    A minha opinião sincera é que todos os artigos que li na net sobre as afirmações desta senhora continham "radicalismos" tal como é referido neste texto. No entanto considero que o presente texto também contém parte desses mesmos radicalismos mas no sentido oposto, por essa razão decidi comentar.
    Para terminar devo parabenizar todos os autores deste blog pelas suas entradas.

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