Termina esta noite em Tampa, na Florida, a convenção Republicana, onde Mitt Romney foi oficialmente nomeado candidato a presidente dos EUA. Há 4 anos, pela mesma altura, nascia uma estrela com uma ascensão tão meteórica quanto a sua queda, Sarah Palin, a candidata a vice-presidente. A escolha deste ano, Paul Ryan, também agrada à ala conservadora do partido, mas não provoca as euforias da antecessora. Depois do flop que se revelou a ex-governadora do Alasca, a escolha de um experiente (apesar de jovem) congressista, especialista em assuntos orçamentais, é uma escolha compreensível.
Considerando-me um liberal, seria natural que me identificasse mais com as propostas da dupla Romney-Ryan do que com a actual administração de Barack Obama e Joe Biden. No entanto, admito a minha aversão ao extremismo em que o Partido Republicano se tem deixado enredar. A meu ver, o partido mais à direita do sistema bipartidário americano posicionou-se uma abordagem equivocada (se não mesmo desonesta) quanto às causas dos problemas que afligem a super-potência e, consequentemente, apresentam propostas insuficientes e contraproducentes para resolverem muitos dos desafios com que a América se depara no presente e no futuro.
Como resposta ao desproporcionado pendor regulador e intervencionista de Obama, os Republicanos revelam uma total aversão ao papel do Estado na economia, querendo eliminar, por exemplo, a reforma de saúde. Simultaneamente, falham em apresentar propostas que respondam cabalmente às insuficiências do sistema de saúde americano. No combate ao défice, ignoram descaradamente que este não é, longe disso, exclusivamente fruto das políticas "socialistas" do inquilino da Casa Branca. No Congresso, os Republicanos querem manter os cortes nos impostos de todas as classes sociais e recusam terminantemente que um único dólar de impostos seja usado para cobrir o gigantesco buraco das contas públicas. Apesar de Obama falhar, ao contrário de Paul Ryan, em admitir que terá de haver fortes cortes na despesa no médio e longo prazo, a sua abordagem é mais sensata, ao prever uma fatia minoritária da receita na consolidação orçamental. O fanatismo Republicano em que toda a despesa pode e deve ser cortada, excepto se for militar, não colhe junto dos que procuram uma estratégia equilibrada.
Por outro lado, quando entramos no campo das liberdades individuais, os Republicanos esquecem-se da sua aversão à intrusão do Estado na esfera pessoal e apressam-se a apresentar legislação para banir o aborto, mesmo em casos de violação e incesto, as mais elementares medidas de planeamento familiar ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. É verdade que Mitt Romney é mais comedido neste campo, mas dada a sua longa tradição de mudar de posição sempre que muda de campanha, não podemos dar muito valor às suas afirmações em cada momento. Assim, após 4 anos que não foram brilhantes por parte de Barack Obama, admito não ver uma alternativa credível do outro lado do espectro político.
Esta noite discursará Mitt Romney. Para este homem de negócios, o principal trunfo é ser visto como capaz de relançar a economia americana, cujo crescimento tem sido anémico após a crise financeira. Os seus dotes de orador estão longe dos de Obama, mas espera-se que ele consiga mover o foco da campanha, deixando para trás os temas do aborto e das suas declarações de impostos, aos quais tem sido colado graças a uma série de tiros nos pés e à hábil campanha de Obama. Se há 4 anos o primeiro presidente negro era o candidato da esperança, este ano tem sido implacável a gerir uma campanha pela negativa contra o seu opositor.
A minha expectativa para esta noite não é elevada. Dos discursos que vi apenas um me pareceu verdadeiramente motivador para as bases e capaz de cativar os votantes independentes. Curiosamente, foi o de um membro da impopular administração Bush: a ex-secretária de estado Condoleezza Rice. A política externa de Obama tem sido vista positivamente pela generalidade do eleitorado e não está no topo das preocupações dos americanos. No entanto, Rice conseguiu apresentar uma perspectiva diferente e, sobretudo, explicar como um mau desempenho económico poderá conduzir a um declínio do papel dos EUA no mundo. Deixou ainda uma nota pessoal, de como uma criança negra no Sul segregado, pode chegar aonde a levar o seu trabalho e ambição. Fica aqui a intervenção de Condoleezza Rice:
Sem comentários:
Enviar um comentário