O jornal Sol noticia hoje os dados apresentados pela DGES (direcção geral do ensino superior) em que se avaliam, entre outras coisas, quais os cursos e áreas de estudo que mais desempregados produziram nos últimos anos. É claro que estes dados não são os reais visto que a definição de desempregado exclui por si só muitas pessoas que se encontram sem emprego. Por outro lado, algumas profissões são propícias a trabalho liberal. Também estes, se deixarem de exercer, não são considerados desempregados. Mas, deixando estes pormenores a que apenas poucos ligam, gostava de salientar alguns dos resultados a que se chegou com esta análise.
Não gostaria de entrar pelas universidades e faculdades que mais desempregados "produzem", gostaria só de discutir quais as áreas de estudo que têm mais desempregados. Pelas tabelas existentes, que por sinal são muito genéricas e pouco detalhadas, chegamos à conclusão que, surpresa surpresa, a maioria das áreas estão ligadas às humanidades, letras e artes. A área de serviços sociais (com 10,3% de desempregados - tabela 8.1) é a com mais desemprego relativo. Esta área inclui apoio a jovens e trabalho social e reabilitação. Não sei se inclui trabalho com idosos, mais uma vez muito pouco especificas estas definições, mas suspeito que não porque com a quantidade de lares e outros serviços ligados a brotar como cogumelos por aí não acredito que a taxa de desemprego fosse assim tão alta.
Seguem-se jornalismo e informação (pergunto-me se aqui não haverá o dedo de Miguel Relvas) seguidos de artes, humanidades (por muito respeito que tenho por quem tira cursos nesta área, pergunto-me quem quer empregar hoje em dia um filósofo, um arqueólogo ou teologia...).
Havendo mais áreas acima da média, a nota a salientar é que abaixo da média estão as ciência exactas, engenharias e saúde (áreas que como toda a gente sabe são parte essencial para a economia baseada na tecnologia e no bem estar).
Ora, face a estes dados parece que o governo vai usá-los para definir as vagas sendo que provavelmente nos cursos onde o desemprego é maior as vagas irão ser congeladas ou diminuídas (para já todos os cursos têm o número de vagas congeladas para o próximo ano). A minha questão está no quão correcta é esta estratégia. Não conheço qual a rentabilidade de cada curso, provavelmente poucos serão os cursos que conseguem ter lucro, se assim for acredito fazer sentido ajustar as vagas conforme os índices de empregabilidade. Não faz sentido andar-se a pagar para alguém tirar um curso, que por mais giro e interessante que seja, não irá trazer benefícios visíveis à sociedade. Claro está que este é um problema que dava para uma tese já que estando nós num Estado social como o nosso essa pessoa acaba por ter o direito, já que pagou os mesmos impostos que qualquer uma pessoa, a exigir aquele curso aberto. E, assim, imaginando que os cursos não dão prejuízo, a limitação de vagas acaba por limitar a livre escolha de quem paga os seus impostos dando mais razão a quem quer esses cursos. Claro que a escolha é irracional (sabendo que vai para o desemprego) mas o mundo está cheio de indivíduos com diferentes utilidades, portanto nada de espantar. A maior autonomia das universidades, aproximando-se de uma privatização, seria uma possível solução já que o mercado tenderia a resolver o problema das vagas e cursos existentes mas traria outros desafios a considerar (qualidade de ensino, valores de propinas entre outros). Penso que seria preciso reflectir sobre tudo isto e não só tomar medidas avulso sem fazer uma mudança de fundo no sistema existente.
Agora para relaxar um pouco deixo-vos um pequeno vídeo de uma curta metragem de nome L'homme aux bras Ballants, cuja musica é da autoria de Yann Tiersen, mais conhecido pelas musicas da banda sonora do filme Amélie.
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