quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Eleições americanas: rescaldo

Como se previu neste blog (e em todas as sondagens credíveis) Barack Obama foi reeleito para mais 4 anos à frente dos destinos dos Estados Unidos da América. Tive oportunidade de manifestar o meu desejo por este desfecho. A derrota do inconsistente candidato do GOP, Mitt Romney, e consequentemente a não aplicação de muitas das suas propostas, em áreas como a saúde, a economia e as relações externas, são para mim uma razão de satisfação.

Numa altura em que apenas a decisão da Florida não é considerada totalmente fechada (Obama venceu, mas por curta margem), admito o meu erro na projeção do resultado de dois dos cinquenta estados: a Virginia e a referida Florida. Previ que Romney conseguisse reverter as vitórias de Obama em 2004 nestes swing states, embora os tenha apontado como os mais incertos. Aqui fica o reconhecimento ao trabalho fantástico do especialista em sondagens Nate Silver que acertou no desfecho dos 50 estados e de D.C..

Na noite de terça-feira foi ainda a eleições a totalidade da Câmara dos Representantes e um terço do Senado. Na câmara baixa os Republicanos mantiveram a maioria conquistada há dois anos, embora com algumas perdas. Na câmara alta, e contra todas as previsões há meio ano, os Democratas não só mantiveram a sua maioria como a reforçaram. Para este desfecho contribuíram não só um forte leque de candidatos em estados competitivos mas também uma série de erros não forçados do Partido Republicano. A polarização da política norte-americana tem levado à escolha nas eleições primárias, de candidatos com visões distantes da maioria dos cidadãos. Este ano em concreto, os Republicanos perderam dois lugares no Senado, no Missouri e no Indiana, ao rejeitarem candidatos moderados e apresentarem a eleições defensores da proibição do aborto mesmo em caso de violação ou de incesto.

Estes resultados, principalmente num contexto económico extremamente adverso a Obama, tem de lançar uma profunda reflexão no Partido Republicano. Nos últimos anos este partido tem assumido posições cada vez menos cooperantes. O exemplo mais gritante é, a meu ver, a total recusa de aumento de impostos para saldar um défice muito elevado, apesar da baixa carga fiscal do país. O veto às propostas democratas de 1 dólar de aumento de impostos por cada 10 de corte de despesa atesta bem a fuga ao centro. Esta deriva extremista acentuou-se em 2010 com a vitória de muitos candidatos ao Congresso do chamado tea party, cuja principal raison d'être é a diminuição do peso do estado federal.

Posições contrárias aos apoios a estudantes no ensino universitário, a uma reforma das leis de emigração e uma colagem a valores sociais mais conservadores têm de ano para ano isolado os Republicanos em relação aos jovens, e às diversas minorias (negros, hispânicos e asiáticos). O peso crescente deste último grupo representa uma ameaça ao partido mais à direita dos EUA, uma vez que corre o risco de ser esmagado pelas tendências demográficas.

O governo dividido que exigirá cooperação entre Casa Branca e Senado Democratas e Câmara dos Representantes Republicana poderá ser o ponto de partida para uma viragem ao centro por parte do GOP. Até ao final do ano os dois partidos terão de se entender para evitar o fiscal cliff. Esta combinação tóxica de subida de impostos e de cortes na despesa a partir de 1 de Janeiro de 2013 foi acordada entre os dois partidos para se obrigarem a atingir um compromisso. Caso não seja alcançado, a América ver-se-á seguramente numa nova recessão. Apesar de manterem a maioria na câmara baixa os Republicanos dão sinais de saberem ler a situação e ensaiam já uma posição mais moderada. Será um debate interessante de acompanhar nas próximas semanas, até pelo impacto que terá na economia mundial.

Uma última nota para a vitória em vários referendos estaduais de causas sociais que, enquanto liberal, defendo. Falo concretamente da despenalização do consumo de cannabis no Colorado e da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Maine, em Maryland e (aparentemente) em Washington.

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