sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A convenção de Charlotte

Former President Bill Clinton bows to President Barack Obama after Clinton spoke at the Democratic National Convention in Charlotte, N.C., on Sept. 5, 2012. Obama briefly walked on stage to greet Clinton following the speech.

(Este texto foi escrito antes da última noite da convenção, em que discursaram Barack Obama e Joe Biden)

Na semana passada dei aqui conta da convenção Republicana. Esta semana, noutro swing state, a Carolina do Norte, é a vez dos Democratas se juntarem para lançar a campanha de reeleição de Barack Obama. Em mais um evento orquestrado ao mais ínfimo pormenor, têm-se sucedidos os discursos de políticos e de cidadãos comuns que beneficiaram das reformas da administração Obama. Se há 4 anos as atenções se focavam na necessidade de união do partido, após a dura luta contra Hillary Clinton, este ano o presidente pode focar-se inteiramente nos eleitores independentes.

A importância desta convenção é seguramente menor para a formação de opinião dos eleitores do que a dos Republicanos. Ao contrário de Mitt Romney, os cidadãos americanos já conhecem bem o candidato Democrata. Ainda assim, a convenção oferece um palco único, com uma cobertura mediática gratuita ímpar, para a campanha de Obama passar a sua mensagem. Uma delas é seguramente o contraste entre a distância e frieza que apontam a Romney, por oposição a Obama, cuja biografia é o próprio sonho americano. Por outro lado, com a economia pouco mais do que estagnada, o presidente tem de explicar que as suas políticas estão a dar resultado, que a recuperação é lenta por culpa da dimensão da crise e que, sobretudo, os seus planos permitirão uma sociedade mais justa do que a preconizada pelos Republicanos, acusados de quererem cortar os impostos para os mais ricos e diminuírem os apoios aos mais carenciados.

Obama discursará esta madrugada, mas destaco dois excelentes discursos. Na primeira noite, Michelle Obama defendeu, de forma emocionada, o carácter do marido e assegurou a audiência de que o homem que elegeram é o mesmo de há 4 anos. Numa mensagem popular (ou populista...), a primeira-dama garantiu que Obama viveu e compreende os problemas das classes mais baixas e da classe média.

Ontem à noite, o antigo presidente Bill Clinton galvanizou os Democratas em Charlotte com um longo mas cativante discurso. Clinton, que teve uma relação difícil com o ex-rival da esposa nos primeiros anos do mandato, foi incansável na defesa do actual inquilino da Casa Branca. Com a autoridade conferida pelo excepcional desempenho económico e orçamental dos Estados Unidos ao longo do seu mandato e pela sua elevada popularidade, Clinton defendeu que Obama salvou a economia do colapso e que a recuperação se começa a fazer sentir. O seu discurso é tanto mais persuasivo quando os Republicanos o têm elogiado repetidamente, num arriscado esforço para estabelecer o contraste entre Obama e o bem sucedido Clinton. Muitos comentadores, incluindo Republicanos, admitem que este discurso pode bem ter garantido a reeleição a Obama.

Penso que o impacto destes discursos são manifestamente sobrevalorizados, mas ainda assim, merecem ser vistos. Apesar da artificialidade dos eventos da política americana, em mais nenhum país a democracia consegue ser tão intensamente vivida. Inspirador.

Abaixo podem encontrar os discursos de Michelle Obama e de Bill Clinton.


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