
Esta biografia é a escolha ideal para quem quiser conhecer Margaret Thatcher para lá dos estereótipos e mitos dos seus admiradores e detractores. John Campbell consegue ir ao detalhe sem se tornar maçador. Das mais de 400 páginas sai o retrato de uma mulher ambiciosa e determinada, com uma crença inabalável na superioridade moral das ideias que defendia. Sai também uma primeira-ministra rancorosa e insegura, incapaz de confiar naqueles que a rodeavam e de demonstrar qualquer solidariedade com os colegas.
Foi a sua absoluta convicção de que a Europa era um terreno hostil (alimentado pela experiência de crescer durante a Segunda Guerra Mundial), que conduziu o seu partido para o eurocepticismo e que fez com que o Reino Unido estivesse dentro e fora da Comunidade Europeia. Sempre obstrutiva nas negociações, prejudicou as hipóteses de moldar a construção europeia de forma a beneficiar o seu país.
Despedia ministros sem hesitações sempre que via sinais de incompetência ou de ameaça ao seu domínio. A "ditadora eleita" revelou-se, assim, uma geradora de ressentimentos sem verdadeiros amigos. O conceito de espírito de equipa era-lhe totalmente estranho. Foram precisamente os seus correligionários políticos que conseguiram o que a oposição não alcançou em quase 12 anos: derrubá-la.
Mas quando nos afastamos das relações pessoais e da politiquice conseguimos ver também um animal político com uma capacidade de trabalho ímpar e que definiu o rumo do Reino Unido durante 11 anos. Poderemos questionar se ela apenas estava no lugar certo, na altura certa. O facto é que a Dama de Ferro liderou uma cruzada para devolver à sociedade a liberdade de iniciativa económica quando a Europa parecia deslizar irremediavelmente num ciclo de despesa pública, inflação e necessidade de mais despesa pública. A sua inabalável fé na superioridade do modelo ocidental de liberdade individual e capitalismo foi o combustível que a moveu no reforço da pressão sobre a União Soviética. Foi precisamente no ocaso do seu consulado que assistiu, extasiada, à queda do Muro de Berlim e ao colapso do comunismo.
É inegável que Maggie foi pouco atenta aos custos da transição. Deixou uma sociedade mais rica, mas mais injusta. Ainda assim, a coroação da sua visão deu-se poucos anos depois da sua saída do poder. Em 1997 o seu inimigo mortal, o Partido Trabalhista, voltou ao poder, mas com uma plataforma de apoio no mercado livre inimaginável em 1979. Um dos ideólogos do New Labour afirmou, memoravelmente, "we are all Thatcherites now".
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