sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Agitação no Nilo

Confirmando o efeito de contágio da revolução tunisina, a população egípcia saiu às ruas para tentar derrubar o regime ditatorial de Hosni Mubarak, no poder há quase 30 anos. O regime reagiu cortando o acesso a qualquer tipo de telecomunicação e impondo o recolher obrigatório em todo o território. Neste momento é incerto qual o desfecho deste movimento popular, o maior de sempre durante o actual regime.
Mais incerto ainda é o peso de cada umas correntes de pensamento entre os que se opõem a Mubarak. Por um lado temos os moderados, cuja figura mais representativa é El Baradei, Nobel da Paz e ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atómica. El Baradei regressou hoje ao seu país e foi colocado em prisão domiciliária. Mas, ao contrário do que acontece na Tunísia, existem no Egipto consideráveis movimentos islamitas. Não devemos esquecer que foi o islamismo radical egípcio que produziu figuras como Ayman al-Zawahiri, o número dois da Al-Qaeda.
O regime de Mubarak tem sido um consistente aliado dos EUA e dos seus aliados, nomeadamente Israel. O Egipto tem sido moderador no conflito entre israelitas e os palestinianos, apaziguando muitas vezes os ânimos do mundo árabe. Esta postura tem contribuído também para fomentar posições radicais na sua sociedade, o que serve de pretexto para que o país viva sob "estado de emergência" há três décadas. São bem conhecidas as práticas de tortura a suspeitos de terrorismo nas prisões egípcias, tendo estas feito parte dos instrumentos da Guerra ao Terror, promovida pelos EUA na última década. O valor dado a Mubarak pela diplomacia norte-americana ficou, aliás, claro nas últimas revelações da Wikileaks. Foi no Cairo que Barack Obama fez o seu importante discurso de aproximação ao mundo muçulmano.
É impossível saber se o brutal regime de Hosni Mubarak chegará ao fim, poucos meses antes da sua especulada sucessão pelo filho, Gamal Mubarak. Ao contrário de Ben Ali, o presidente egípcio conta com um exército forte que já foi posto nas ruas para o defender. Mubarak, no entanto, já prometeu algumas reformas no país, para responder ao descontentamento da população.Como referiu Alexis de Tocqueville, no século XIX, o momento mais perigoso para um mau governo é quando dá os primeiros passos no sentido das reformas. Se assim for, podemos acalentar a esperança de ver nascer no Egipto um regime democrático, que vá de encontro às aspirações do seu povo e que esteja à altura da história da sua civilização.

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