O governo tem sido vítima (ou agente?) de um claríssimo desnorte nas últimas semanas, se não mesmo no último par de meses Podia aqui falar da reacção inusitada do primeiro-ministro, à porta do teatro, ao acórdão do Tribunal Constitucional sobre os cortes de subsídios na função pública. Ou da ainda mais inconcebível resposta à insólita entrevista do presidente deste tribunal. No entanto, o caso mais óbvio e, a meu ver mais sério, é o de Miguel Relvas.
Já aqui tive oportunidade de dizer o que penso e, mais recentemente, também o Pedro Miguel Ferreira deixou a sugestão de que está na hora de cortar a relva. Há falta de rumo quando um ministro teve relações com o principal arguido do caso das secretas, quando um ministro se envolveu em conversas destemperadas com jornalistas e quando um ministro trouxe de volta algumas das piores memórias do socratismo e de um dos seus principal pilares: o chico-espertismo (melhor ainda, também na sua versão licenciatura por encomenda). A moldura deste desnorte são as idas e voltas ao parlamento sempre coroadas com rectificações às idas anteriores.
É demasiado penoso ver os que atacaram a vitimização e mistificação Socrática praticá-la com tanto ou mais afinco.Naturalmente que reconheço o dedo da Impresa e da sua luta contra a Ongoing e a privatização da RTP (lutas mais ligadas do que às vezes nos recordamos) neste esforço de investigação. Mas os factos valem por si, e se no seu interesse próprio a Impresa os trouxe à luz do dia, tanto melhor. O sistema ainda vai funcionando.
Mais desnorte ainda revela o primeiro-ministro que se recusa em ver relevância no caso. Num país cansado e traumatizado pelas manobras e incompetência do executivo anterior, o mínimo que se pedia a Passos Coelho era tolerância zero com as jogadas lamacentas do seu adjunto. Ao tacita e expressamente desvalorizar estas questões, o primeiro-ministro torna-se cúmplice, dá um mau exemplo e enlameia todo o governo.
Esta é uma mancha que já é indelével Este governo tem um stock decrescente de capital político e uma tarefa hercúlea pela frente. Gastá-lo com Miguel Relvas não é só um erro político. É defraudar todos os portugueses, em especial os que votaram nesta coligação na convicção que poria a transformação deste país em primeiro lugar.
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