terça-feira, 29 de maio de 2012

Menina e moça

A nossa capital foi nas últimas semanas alvo do olhar de pessoas de fora, que confessaram a sua paixão por ela. Foi Anthony Bourdain, do programa No Reservations, que percorreu as suas ruas, comeu nos restaurantes finos e nos tascos, e levou e deixou uma impressão de uma cidade ainda melancólica, presa num passado de ditadura que grande parte dos seus habitantes não chegou a ver. Dos criadores de start-ups, elogios não faltam. Tem sol, gente capaz, e excelente qualidade de vida. Para o crítico do New York Times, a cidade dá-lhe a liberdade que outros destinos não conseguem.

Já eu, amo-a por tudo isso. Pelos momentos de melancolia à volta de uma mesa com copos de cerveja a queixar-me da vida com amigos. Pelos regressos a casa, às vezes a pé, a horas tardias, em que eu e ela estávamos sós. Pela luz que a ilumina quase todos os dias e a deixa de cara lavada, sorridente. Pelo seu relevo que dá gozo quando a desço pela Avenida da Liberdade até à Baixa. Pelas memórias que guardo em cada sítio dela que percorri, e porque, como os seus habitantes, também eu às vezes sou melancólico e preso a um passado que acho que vivi, mas não. Como qualquer apaixonado, já achei que o meu amor por ela seria eterno. Mas agora tenho medo que um dia acabe. Se isso acontecer, sobreviverei. E guardarei bem a memória deste meu primeiro amor. Mas não sei para onde irei a seguir.

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