segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O papel de Seguro

Confesso que, há vários anos, não vejo em António José Seguro mais do que um amontoado de frases feitas e tácticos desvios oportunistas da disciplina socrática. Para mim era claro que o seu objectivo era ganhar margem para sacudir a água do capote, após o inevitável naufrágio a que o PS (não o dele, mas o de Sócrates, claro) nos foi conduzindo.

Entrando no domínio da psicanálise, imagino que Seguro pense que criou a imagem daquilo a que os "politólogos" americanos chamam um maverick, um cabeça-quente que segue as suas convicções antes da doutrina partidária. Chegado ao poder, Seguro teve a oportunidade e a obrigação de provar o que vale. Desde a sua eleição, no Verão, que afincada e inutilmente procuro sinais de vida inteligente. Bem sei que não é fácil provar o que se vale quando se tem de liderar um navio cheio da tralha do ancien régime e a única política executável no país é a de seguir as instruções da ajuda externa, a mão a que tivemos de nos agarrar uma vez caídos na fossa.

Agrada-me a serenidade e o "sentido de Estado" de Seguro em relação à inevitabilidade de apoiar as propostas do Governo. Posto isto, Seguro não deu praticamente uma para a caixa no debate do Orçamento. O caos da sua bancada parlamentar deu um toque confrangedor de tragicomédia à situação.

Mas eis que, quando já estava conformado em ver a liderança de Seguro definhar vagarosamente até às próximas eleições (ou até um eventual afundamento do PSD nas sondagens), eis que o líder do PS tirou um coelho da cartola:


I beg your pardon? Os países que não vivem acima das suas possibilidades devem ser castigados? Uma multa? Faz todo o sentido! Taxe-se os países com excedente orçamental! Também taxamos as empresas que dão lucro, as famílias que arrecadam rendimentos. Sugiro uma alternativa: que tal obrigá-los a comprar-nos galos de Barcelos e tapetes de Arraiolos até equilibrarmos as nossas balanças bilaterais? Criaríamos emprego e riqueza em Portugal, ajudava a cobrir o nosso buraco e alegraria os lares dos dois ou três países europeus com superavit orçamental no último ano.

Folgo, pois, em saber que Seguro tem um papel a cumprir. Fazer-nos pensar em que sistema político é este, em que o resultado é produzir como alternativa ao poder actual alguém com tão pouco valor a acrescentar. Não temos alternativa financeira e não temos alternativa política. É seguro dizer que se trata de um sistema perigoso.

Sem comentários:

Enviar um comentário