
Ouvimos com frequência pessoas justificarem a sua passividade em relação à política e aos processos eleitorais com "são todos iguais". Se muitas vezes é uma desculpa sofrível, desta vez é uma desculpa esfarrapada.
O PS apresentou o seu programa há algum tempo, sendo logicamente de continuidade com os últimos 6 anos. O PSD, maior partido da oposição, deu ontem a conhecer o que propõe. É um programa assumidamente mais liberal do que o do PS e do que qualquer um antes apresentado no nosso país (ultra resumo aqui). Sim, vai de encontro a muitas das reformas estruturais que constam do acordo entre o Governo e a "troika". E são, na maioria, reformas que pretendem dar condições para as empresas gerarem riqueza e contratarem mais trabalhadores. Por outro lado, há reformas para diminuir o peso do Estado e aumentar a escolha dos cidadãos na educação e na saúde.
Mais mais do que analisar os programas em detalhe, o que quero dizer aqui é: os programas são MUITO diferentes. Ambos respeitam o acordo com a "troika" mas, enquanto o do PS vê o acordo como um constrangimento, o PSD vê aí um ponto de partida no que diz respeito às reformas estruturais. Aliás, o PSD já há mais de um ano vinha defendendo muito do que agora nos foi imposto de fora, após o vexatório pedido de ajuda (ou a vexatória necessidade de pedirmos ajuda).
Podemos deixar-nos inebriar pelos fumos da Índia dos fait divers, das gaffes e dos chavões ("querem matar o Estado Social!" e outros que tal), ou podemos focar-nos em qual dos projectos oferece mais esperança para voltarmos a crescer, qual dos projectos nos aproxima do país que queremos ser.
No próximo dia 5, quando nos levantarmos da cama, temos a opção de ir ou não votar. Quem ficar em casa não poderá dizer que são todos iguais e o seu voto não faz diferença. Quem ficar em casa não pode lamentar-se do que vier a acontecer. Quem ficar em casa é protagonista de um país passivo, a quem tanto faz ser levado aos céus ou explorado até à última gota. Este é um momento decisivo, como já 2009 tinha sido. Enquanto português vou ter vergonha de cada ponto da taxa de abstenção.
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