quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Poker face

Não sou grande analista político. Procuro estar informado, mas a verdade é que sou muitíssimas vezes apanhado de surpresa pelos desenvolvimentos da politiquice portuguesa, também pela minha dificuldade em trabalhar intelectualmente o absurdo.
Ainda assim, arrisco dizer que quer no PS, quer no PSD, há a convicção que o Orçamento do Estado terá de ser aprovado, pois os custos de um mau orçamento são inferiores, neste momento, aos de um não orçamento.
Assim, penso que o OE será aprovado de qualquer forma, apenas não sei se será o PS a ceder às condições exigidas por Passos Coelho (aparentemente sensatas), se será o PSD a deixar cair as suas exigências, ou se haverá lugar a um compromisso. Acho que vencerá quem levar o bluff mais longe. Não entram aqui com considerações de interesse nacional e bom senso, isto é mero jogo politiqueiro e Sócrates tem sido bem mais hábil que Passos Coelho.
De qualquer forma, gostaria de deixar escritas duas coisinhas.
Primeiro, compreendo Passos Coelho. Depois de ter sido ludibriado pelo primeiro-ministro em Maio, que concretizou o aumento de impostos acordado mas não a travagem do despesismo, o líder do PSD não acredita na palavra do chefe do Governo.
Segundo, acho que as alterações que propõe vão no bom sentido, mas não alterarão no fundamental o orçamento. A verdadeira dúvida é mesmo se desta vez o PS vai concretizar os cortes prometidos na despesa. Eu estou céptico, pelo histórico de José Sócrates. Fool me once shame on you, fool me twice, shame on me. Por esta razão espero que Passos Coelho aprove o Orçamento do Estado.
Neste momento o destino do país está largamente traçado e é justo que Sócrates e respectiva pandilha possam executar o último acto desta tragédia, sendo devidamente julgados politicamente por isso. Dar-lhe mais uma oportunidade de vitimização era bom de mais para um primeiro-ministro incompetente e pouco sério, que já recebeu de brindes do PSD, entre outros: enfrentar Ferreira Leite nas eleições, a credulidade de Passos Coelho no PEC de Maio e a péssima gestão do dossier Revisão Constitucional.

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